Democracia
Punhos
de redes embalaram o meu canto
para adoçar o meu país, ó Whitman.
Jenipapo coloriu o meu corpo contra os maus-olhados,
catecismo me ensinou a abraçar os hóspedes,
carumã me alimentou quando eu era criança,
mãe-negra me contou histórias de bicho,
moleque me ensinou safadezas,
massoca, tapioca, pipoca, tudo comi,
bebi cachaça com caju para limpar-me,
tive maleita, catapora e ínguas,
bicho-de-pé, saudade, poesia;
fiquei aluado, mal-assombrado, tocando maracá,
dizendo coisas, brincando com as crioulas,
vendo espíritos, abusões, mães-d'água,
conversando com os malucos, conversando sozinho,
emprenhando tudo o que encontrava,
abraçando as cobras pelos matos,
me misturando, me sumindo, me acabando,
apara salvar a minha alma benzida
e o meu corpo pintado de urucu,
tatuado de cruzes, de corações, de mãos ligadas,
de nomes de amor em todas as línguas de branco, de mouro ou pagão.
"Poemas Negros", Jorge de Lima
(Jorge de Lima nasceu no dia 23 de Abril de 1893. Morreu em 1953.)
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