quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Dom António, o outro 4

Foto Tarrenego!

No veludo do paço episcopal desenrola-se um drama. D. António José Rafael, bispo de Bragança e Miranda, está cada vez mais fechado no seu próprio anel, e parece que gosta. Atacado por todos os lados, dispara em todas as direcções. Diz-se um "mal compreendido", compara-se a Deus e à Virgem, lamenta que "muitas vezes deturpem" as suas declarações. "Aconteceu o mesmo a Nosso Senhor, com os fariseus a mal-ensinarem a Sua doutrina", defende-se. E quanto à carga política geralmente notada nas suas homilias, afirma que, por esse caminho, "também Nossa Senhora seria política, quando, em Fátima, anunciou a Lúcia a queda do comunismo"...
D. António Rafael dá ares de pouco incómodo quanto ao abaixo-assinado de "notáveis" bragançanos que pede ao Papa a sua substituição. Declara que os seu autores "perderam a vergonha" e aproveita para fulanizar a oposição que lhe é sistematicamente movida apontando a dedo alguns cónegos, alguns padres e César Urbino, o director do jornal A Voz do Nordeste.
Até os seus próximos e poucos já o reconhecem, no entanto: D. António José Rafael é um homem cada vez mais só, contestado pela sociedade civil e política bragançana e pelo clero local, e criticado também por altos membros do clero a nível nacional. O prelado afirma, porém, que tem todo o apoio de D. António Ribeiro, cardeal-patriarca de Lisboa e chefe da Igreja Católica em Portugal, que lhe terá confidenciado o seu desgosto "por aquela gente tão malcriada".
Em paz, diz-se. E apesar de todas as provações, vindas e a vir, ou exactamente por causa delas, D. António Rafael deposita o seu futuro "nas mãos de Deus". Até porque, como me manda escrever, ditando, "só Nosso Senhor sabe se o bispo cai"...

(Quarta e última parte de um trabalho que escrevi para a revista Sábado em Dezembro de 1991, na sequência de uma entrevista que fiz ao bispo de Bragança e Miranda, para o jornal O Primeiro de Janeiro, um ano antes. António José Rafael nunca foi demitido. Resignou em 2001, por ter atingido o limite de idade, passando a bispo emérito da diocese. Morreu no domingo, com 92 anos.)

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