quarta-feira, 18 de julho de 2018

Paulo Corrêa Lopes 2

Salomé

Só, na cisterna, João Batista em prece
sonha. Estente-se a noite silenciosa,
e, na nudez da solidão piedosa,
o desespero que o tortura esquece.


Dorme o palácio. Salomé ansiosa,
como pantera atroz que se enraivece,
em contorções se agita, e se estremece,
debruçada num tálamo de rosa…


Quase nua se ergue, e altivamente,
nos estos da volúpia que a devora,
desprende as tranças sobre a espádua ardente.


Treme-lhe o lábio aparecendo um beijo,
clama pelo Profeta, e anseia, e chora,
nas algemas da carne e do desejo!


"Obra Poética", Paulo Corrêa Lopes

(Paulo Corrêa Lopes nasceu no dia 19 de Julho de 1898. Morreu em 1957.)

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