sábado, 14 de abril de 2018

Soeiro Pereira Gomes 5

Mas era preciso dinheiro, e então ficara no telhal. E, como um homem, vendeu os braços para que o dinheiro tilintasse agora no bolso das calças. Gineto sentia-se tão feliz que não se lembrou das lágrimas que a mãe havia de chorar por ele e pela féria da semana. Subiu o beco do Mirante a assobiar. As quintas estavam ali em frente a retalhar os vales e a seduzir olhares. O sol, ainda alto, tomava mais branco o branco dos muros e revivescia com reflexos doirados as folhas estioladas das videiras. Mas Gineto não receava a luz da tarde. Tinha a certeza que os caseiros não estariam de atalaia, entre os pomares, porque a melhor fruta já fora apanhada. O moço do telhal sabia de colheitas. Todavia, chegado à estrada, hesitou. Pela primeira vez as suas quintas - suas, como ele dizia - não o atraíram. A Feira afagava-lhe o pensamento; o dinheiro tilintava no bolso... Era livre, sem a perseguição dos caseiros e cães de guarda... Não iria às uvas. 

"Esteiros", Soeiro Pereira Gomes 

(Soeiro Pereira Gomes nasceu no dia 14 de Abril de 1909. Morreu em 1949.)

Sem comentários:

Enviar um comentário