Veneza
Rolam no mar azul, num temporal desfeito,
Teus barcos, teu poder, tua soberania.
Tremes de espanto e horror. E um canto de agonia
Sobe dos teus canais ao leão de torvo aspeito.
O Oriente, a coruscar de ouro e de pedraria,
Fulge-te à fronte e às mãos num derradeiro preito,
E o nardo, o incenso, a mirra ungem-te o régio leito
Em que estendes a dor do teu último dia.
Cristã, que abriste o seio ao pagão muçulmano,
Clamas contra o destino, este maldito oceano
Que o ceptro secular te espedaça nas fragas.
E o Ibero, o teu Otelo, ardendo de áureos ciúmes,
Afoga-te no leito entre raros perfumes,
Ó soberba e imortal Desdêmona das vagas!
Artur de Sales
(Artur de Sales nasceu no dia 7 de Março de 1879. Morreu em 1952.)
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