segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Brito Camacho 2

Às seis horas da manhã pára o comboio em Tunes, estando já formado na gare o que há-de levar-me a Portimão.
Manhã quente, com o sol ainda abaixo do horizonte, e uma leve, uma tenuíssima neblina que nos deixa ver as coisas na realidade do seu feitio e tamanho, já diferenciadas na cor, de pouco variadas cambiantes.
Nunca fui madrugador, e sucedeu-me, em Coimbra, perder o ano, numa aula, por faltas, ainda no primeiro sono, já os meus condiscípulos estavam fartos de ouvir o Mestre, tão pontual que ainda o relógio não acabara de bater as dez horas já ele estava sentado na cátedra.
Nunca fui madrugador, mas também nunca me
arrependi de ter sacrificado o sono da manhã ao encantamento de ver o sol erguer-se, no campo, apagados os últimos clarões da aurora, a simpática deusa que tem os dedos cor de rosa, segundo o testemunho dos poetas românticos, vates de melena e caspa, mortos sem descendência, felizmente...

"Por Cerros e Vales", Brito Camacho

(Brito Camacho nasceu no dia 12 de Fevereiro de 1862. Morreu em 1934.)

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