quinta-feira, 23 de julho de 2015

Guilherme de Almeida

Soneto IX

Nessa tua janela, solitário,
entre as grades douradas da gaiola,
teu amigo de exílio, teu canário
canta, eu sei que esse canto te consola.


E, lá na rua, o povo tumultuário,
ouvindo o canto que daqui se evola,
crê que é o nosso romance extraordinário
que naquela canção se desenrola.


Mas, cedo ou tarde, encontrarás, um dia,
calado e frio, na gaiola fria,
o teu canário que cantava tanto.


E eu chorarei. Teu pobre confidente
ensinou-me a chorar tão docemente,
que todo mundo pensará que eu canto.


"Nós", Guilherme de Almeida

(Guilherme de Almeida nasceu no dia 24 de Julho de 1890. Morreu em 1969.)

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