sexta-feira, 20 de junho de 2014

Machado de Assis 2

Musa consolatrix

Que a mão do tempo e o hálito dos homens
Murchem a flor das ilusões da vida,
Musa consoladora,
É no teu seio amigo e sossegado
Que o poeta respira o suave sono.


Não há, não há contigo,
Nem dor aguda, nem sombrios ermos;
Da tua voz os namorados cantos
Enchem, povoam tudo
Da íntima paz de vida e de conforto.


Ante esta voz que as dores adormece,
E muda o agudo espinho em flor cheirosa,
Que vales tu, desilusão dos homens?
Tu que podes, ó tempo?
A alma triste do poeta sobrenada
À enchente das angústias,
E, afrontando o rugido da tormenta,
Passa cantando, alcíone divina.


Musa consoladora,
Quando da minha fronte da mancebo
A última ilusão cair, bem como
Folha amarela e seca
Que ao chão atira a viração do outono,
Ah! no teu seio amigo
Acolhe-me, - e haverá minha alma aflita,
Em vez de algumas ilusões que teve,
A paz, o último bem, último e puro!


"Crisálidas", Machado de Assis

(Machado de Assis nasceu no dia 21 de Junho de 1839. Morreu em 1908.)

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