Foto Hernâni Von Doellinger |
Dieta mediterrânica é cá em casa. Eu é que sei, mas, já estou habituado, ninguém me perguntou nada. A chamada dieta mediterrânica passou outro dia a Património Imaterial da Humanidade. Gosto da pomposidade das maiúsculas e gosto da palavra "Imaterial", porque, pensando bem, é uma palavra que, não sendo sólida nem líquida, resvala sorrateiramente para o domínio do "Gasoso" - o que confere.
Mas lá está: a UNESCO decidiu e está decidido. Agora, diz o jornal, a dieta mediterrânica tem de ser "estudada, inventariada, divulgada, protegida". Agora? Não percebo. Então essa parte não foi feita antes? Se a alegada dieta mediterrânica não estava devidamente "estudada, inventariada, divulgada, protegida", o que caralho é que a UNESCO passou a Património Imaterial da Humanidade? Um palpite? Pfff...
Em geral o que a UNESCO faz quando lista um dos chamados patrimônios culturais, imateriais ou edificados, é tentar ajudar a proteger alguma coisa que sem proteção corria o risco de ser destruída, material ou "imaterialmente" falando. Não existe na verdade muita razão para as pessoas se "orgulharem" nem para acharem que estar listado na UNESCO é passaporte imediato para filas de turistas se formarem para nos virem visitar. O que a UNESCO faz é tornar público um compromisso que os países que apresentam propostas a listar assumem perante a UNESCO de que irão proteger aquele bem e não deixá-lo morrer. No nosso caso a proposta de adesão a esta história da dieta mediterrânica teve a ver com uma preocupação das "Mulheres de Vermelho" com a saúde do coração da nação, veja bem... Para tentar fazer com que os portugueses voltassem a comer saudavelmente. Foi uma ação de marketing que pegou num "gancho" talvez um pouco sem lastro... Primeiro foi preciso se convencer a a UNESCO que apesar de banhados pelo Atlântico, Portugal é também mediterrânico. Não foi difícil depois que os 4 países que já haviam sido reconhecidos por sua dieta mediterrânica apoiassem esse pressuposto com uma reapresentação da mesma candidatura já anteriormente aceita, integrando 3 novos países, entre os quais Portugal. Como se poderia negar o que já tinha sido aprovado? É tudo uma questão de metodologia, dirão alguns... Brilhante estratégia dirão outros... Deixo a quem quiser a análise e julgamento. Mas agora será preciso pegar em todas as tradições culinárias e festivas Algarvias e não só, mesmo as que se formaram com influências não necessariamente vindas daquela bacia marítima, e procurar classificá-las como mediterrânicas, chamar de mediterrânicas as feiras de artigos e produtos regionais, encontrar paralelos sociológicos mediterrânicos nas festas e celebrações populares, mesmo as que até agora se acreditou de origem celta, por exemplo, e também classificá-las como mediterrânicas. Continuar fazendo o que se fez durante a campanha... Mediterraneando o xerém! Por assim dizer. Mas enquanto seria talvez prioritário apoiar e incentivar restaurantes para que passem a apresentar ementas que possam claramente ser consideradas mediterrânicas, onde as verduras e legumes sejam mais variados que as batatas fritas, alface, tomate e com sorte, cebolas... Só as azeitonas de entrada não convencerão mais os turistas que por acaso resolvam vir conferir in loco a dita dieta reconhecida pela UNESCO. Por muito que tenham sido colhidas sem recurso às máquinas, por muito que tenham sido britadas pelas mãos de quem as colheu. Aliás, calhava bem também o incentivo às técnicas agrícolas tradicionais que se volte a produzir os frutos da terra para compor a dieta com seu justo equilíbrio de muitas verduras e legumes e grãos e frutas, e muito menos peixe, menos ainda carne vermelha e de enchidos... quase nada... Dura competição quando o uso das terras agrícolas pode ser tão mais rentável alugando-se terrenos para a implantação das estufas para framboesas e outros frutos vermelhos a enviar para venda certa e a bom preço nos mercados do norte da Europa. Enfim... Encontrou-se maneira fácil de enfiar a mão na cumbuca. Agora vamos ver como se conseguirá tirar de lá a mão... E cumprir com a palavra dada à UNESCO.
ResponderEliminarLi tudo. Já se comia qualquer coisinha...
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