Eu vou contar: era um casal claramente germânico que iniciava a sua caminhada matinal pelo parque. À frente, livre da trela, saltitava um daqueles luluzinhos fraldiqueiros muito pouco germânicos e que se afastava dos donos cada vez mais, à procura da brincadeira com os melros. E afastou-se tanto que a senhora se sobressaltou, pôs-se de repente em sentido, puxou pelos galões, levantou e estendeu o braço direito (apontando ao animal, quero eu dizer) e disse qualquer coisa parecida com Mainazuçavelpencomanihaihaihaihacomanumume e que eu suponho que seja o nome de baptismo do bicho, uma vez que ele deu si, fez imediatamente meia volta e, de rabo entre as pernas, foi entregar-se aos braços abertos da dona. O palavrão também pode querer significar outra coisa qualquer, mas não sei dizer o quê, porque, neste como noutros departamentos, estou ainda abaixo de cão.
O que sei dizer é que fiquei para a minha vida. Um cão que percebe alemão? Depois do que vi, já estou por tudo, acredito em tudo. Se me chamarem para ir jogar no Saragoça, eu acredito-me e vou. Se me disserem que a crise começa a acabar já para o ano, eu fio-me e corro a fazer o empréstimo para o Ferrari. Se me garantirem que o Miguel Relvas, não desfazendo, é muito boa pessoa, eu... eu... ... Não sei, se calhar não acredito.
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