domingo, 2 de julho de 2017

Zélia Gattai 4

Num casarão antigo, situado na Alameda Santos número 8, nasci, cresci e passei parte de minha adolescência.
Ernesto Gattai, meu pai, alugara a casa por volta de 1910, casa espaçosa, porém desprovida de conforto. Teve muita sorte de encontrá-la, era exatamente o que procurava: residência ampla para a família em crescimento e, o mais importante, o fundamental, o que sobretudo lhe convinha era o enorme barracão ao lado, uma velha cocheira, ligada à casa, com entrada para duas ruas: Alameda Santos e Rua da Consolação. Ali instalaria sua primeira oficina mecânica. Impossível melhor localização! 

Para quem vem do centro da cidade, a Alameda Santos é a primeira rua paralela à Avenida Paulista, onde residiam, na época, os ricaços, os graúdos, na maioria novos-ricos.
Da Praça Olavo Bilac até o Largo do Paraíso, era aquele desparrame de ostentação! Palacetes rodeados de parques e jardins, construídos, em geral, de acordo com a nacionalidade do proprietário: os de estilo mourisco, em sua maioria, pertenciam a árabes, claro! Os de varandas de altas colunas, que imitavam os "palázzos" romanos antigos, denunciavam - logicamente - moradores italianos. Não era, pois, difícil, pela fachada da casa, identificar a nacionalidade do dono.


"Anarquistas, Graças a Deus", Zélia Gattai 

(Zélia Gattai nasceu no dia 2 de Julho de 1916. Morreu em 2008.)

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