Às vezes o José Manuel, que de baptismo era Rodrigues, levava-me a umas noitadas privadas e filosóficas (ele, o Pimenta e eu) no Peludo antigo, mesmo em frente ao seu excêntrico atelier, o que nos era de uma extrema comodidade. As noitadas entravam pela madrugada dentro, porque o Zé Manel tinha muito que contar e nós gostávamos muito de ouvir. O Sr. Avelino fechava para nós. Comia-se um marisquito, que àquelas altas horas estava nas últimas, e sobretudo bebia-se cerveja, finos, com tremoços, para fazer boca. Mais do que uma vez esgotámos o stock de copos, enchendo sete ou oito mesas à nossa volta, o café inteiro, porque o Sr. Avelino gostava de fazer a conta no fim. Partiam-se alguns, o Sr. Avelino afinava, tomava nota para acrescentar ao rol. Mas o pior era o desbaste nos tremoços, que pedíamos repetidamente por uma questão de princípio.
Uma noite o Sr. Avelino não aguentou e queixou-se: - Sr. Zé Manel, assim não pode ser, já comeram mais de dez pires de tremoços. É um prejuízo muito grande. Os tremoços custam-me dinheiro, valha-me Deus!...
O Zé Manel foi ao bolso do casaco, sacou da carteira marreca, tirou uma mão-cheia de notas e disse séria, calma e secamente: - Ó Avelino, traz-me cinco contos de tremoços! - e pousou o dinheiro como mão de póquer em cima da única mesa de vago, que era a nossa...
Uma noite o Sr. Avelino não aguentou e queixou-se: - Sr. Zé Manel, assim não pode ser, já comeram mais de dez pires de tremoços. É um prejuízo muito grande. Os tremoços custam-me dinheiro, valha-me Deus!...
O Zé Manel foi ao bolso do casaco, sacou da carteira marreca, tirou uma mão-cheia de notas e disse séria, calma e secamente: - Ó Avelino, traz-me cinco contos de tremoços! - e pousou o dinheiro como mão de póquer em cima da única mesa de vago, que era a nossa...
P.S. - Publicado originalmente no dia 16 de Agosto de 2020. Hoje, 10 de Março, é Dia do Conservador, e o Zé Manel Carriço era-o completamente. Pensando bem, nunca mais encontrei outro que tal...
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