Factos reais como punhos. Manhã de sábado, A28, direcção
Matosinhos-Viana do Castelo, um pouco antes da saída para Vila do Conde.
À minha frente segue uma velha carrinha Renault 4L, de um cor-de-rosa
altamente suspeito e vagaroso. Aproximo-me, com o fastio próprio dos
condutores domingueiros que já não têm paciência para os condutores
domingueiros, mas arrebita-se-me a atenção quando, mesmo em cima dela,
leio os dizeres da viatura. São uns dizeres sugestivos e muitos,
reclames açucarados a um loja de prazeres - sex-shop em português.
E
vejo finalmente os ocupantes, ainda por trás: é o do volante e, ao
lado, uma louraça da fazer parar o trânsito. Mas eu avanço. Avanço
cuidadosamente para a ultrapassagem, olho para o gajo e o gajo sorri
malandro. E eu continuo a olhar (eu posso olhar e continuar a olhar,
porque eu não conduzo, não sei conduzir, nem sequer tenho carta) e o
gajo continua a sorrir. Brincalhão! A gaja não sorri, não me liga nenhuma,
olha sempre em frente, tomando sentido à estrada, ainda mais loura do
que há bocado e, reparo agora, tem uns lábios vermelhos e
escarrapachados.
A minha mulher desliga o pisca e então é que se me
faz luz. A gaja da catrel é uma boneca. Uma boneca mesmo, de plástico,
uma boneca insuflável, de carregar pela boca. O gajo olha para mim e
sorri cada vez mais, está a gostar. Malandro! Não sei onde é
que a gaja tem a mão.
P.S. - Publicado originalmente no dia 12 de Dezembro de 2012, então
sob o título "Uma boneca da festas boas", devido à época, como agora.
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