Amantes. Lembro-me muito bem, de uma vez, no Santo:
houve uma espera, pancadaria da velha entre duas mulheres, esposa e amásia disputando um lingrinhas que se ria como um perdido e era feio como
um calhau. Corria muito bem a contenda, era já roupa rasgada, sangue e cabelos arrancados até dar com um pau, quando a manifesta concubina resolveu por melhor dar parte de fraca e
deixou-se ficar no chão. Espumava e tremia por todos os lados. O rosto
passava-lhe do vermelho ao verde, que até parecia um semáforo. Nós ainda
não sabíamos o que era um semáforo, mas era aquilo. A legítima batia no
ar e falava ao mesmo tempo - "A badalhoca enche-o de gemadas para ele
não lhe sair de cima". Perante o argumento rasteiro, à outra deu-lhe o fanico total,
cheia de vergonha, ranho e desmaio.
Acorreu o senhor Zé Manco, que tinha um tasco-mercearia, A Primorosa, e era muito jeitoso para dar injecções. Para além disso, o molageiro gostava
também de pôr a mãozinha no sopeirame local. "É afastar, faz favor, é
dar espaço, para ela respirar", dizia o senhor Zé Manco nos seus
domínios, abrindo de vez a esfarrapada blusa da supranumerária, baixando-lhe um quase
nada o sutiã e revelando um quase tudo de uns seios brancos como a neve,
coisa linda de se ver. Depois, uma caneca de água fresca cabeça abaixo
da desmaiada, "para a mulher espertar". E a mulher espertou.
E eu fiquei ali apaixonado pela palavra amantes.
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