sábado, 17 de julho de 2021

Tasqueiro para todo o serviço

Amantes. Lembro-me muito bem, de uma vez, no Santo: houve uma espera, pancadaria da velha entre duas mulheres, esposa e amásia disputando um lingrinhas que se ria como um perdido e era feio como um calhau. Corria muito bem a contenda, era já roupa rasgada, sangue e cabelos arrancados até dar com um pau, quando a manifesta concubina resolveu por melhor dar parte de fraca e deixou-se ficar no chão. Espumava e tremia por todos os lados. O rosto passava-lhe do vermelho ao verde, que até parecia um semáforo. Nós ainda não sabíamos o que era um semáforo, mas era aquilo. A legítima batia no ar e falava ao mesmo tempo - "A badalhoca enche-o de gemadas para ele não lhe sair de cima". Perante o argumento rasteiro, à outra deu-lhe o fanico total, cheia de vergonha, ranho e desmaio.
Acorreu o senhor Zé Manco, que tinha um tasco-mercearia, A Primorosa, e era muito jeitoso para dar injecções. Para além disso, o molageiro gostava também de pôr a mãozinha no sopeirame local. "É afastar, faz favor, é dar espaço, para ela respirar", dizia o senhor Zé Manco nos seus domínios, abrindo de vez a esfarrapada blusa da supranumerária, baixando-lhe um quase nada o sutiã e revelando um quase tudo de uns seios brancos como a neve, coisa linda de se ver. Depois, uma caneca de água fresca cabeça abaixo da desmaiada, "para a mulher espertar". E a mulher espertou.
E eu fiquei ali apaixonado pela palavra amantes.

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