Anos oitenta do século passado. Luís Filipe Barros era uma das vozes da moda e gozava do estatuto de verdadeira vedeta. "Ia aos restaurantes, almoçava ou jantava, mas não pagava. Nos bares, bebia sempre à borla. Ia às discotecas, aos fins-de-semana, e ainda ganhava dinheiro. Eram realmente bons tempos...", dizia-me o famoso radialista já lá vão mais de dez anos, para um trabalho na revista 24horas.
Nas deslocações ao Norte, um dos seus companheiros de viagem costumava ser Herman José, que também fazia o circuito das discotecas. "Íamos para o Porto na sexta-feira e regressávamos a Lisboa no domingo à noite, a contar notas, cada um para o seu lado, no comboio". Da primeira vez havia em Campanhã uma pequena multidão de fãs à espera, agitando cartazes. Luís julgava que era para o Herman, mas não, era mesmo para ele...
O importante papel que Luís Filipe Barros desempenhava como divulgador musical na rádio portuguesa introduzia-o na intimidade das estrelas de rock que visitavam Portugal ou Espanha. Uma vez, em Madrid, foi convidado para jantar com os Pink Floyd, após concerto. Contou-me: "Eu estava cheio de fome, queria comer o meu bife, mas os gajos andavam numa de emagrecer e tinham marcado num restaurante japonês. Foi uma desgraça: peixe cru e salada de violetas, naquela altura eu sabia lá o que isso era. Mas dava para perceber que os tipos já não podiam ver o Roger Waters. Tinha a mania que mandava em tudo, lá por o Sid Barrett ser maluco..."
Aos Supertrump, que andavam também nos cornos da lua com o "Breakfast in America", Luís Filipe Barros ia dando cabo dos dois concertos agendados para Cascais. Alguém teve a infeliz ideia de organizar um jogo de futebol entre os músicos e a equipa da chamada comunicação social. Luís, do lado dos jornalistas, levou a coisa a sério (à séria, se lido em Lisboa) e... ia partindo uma perna ao vocalista da banda britânica. Confessou: "Dei uma trancada tamanha no Roger Hodgson, que quase não havia concerto para ninguém. Fui expulso e tudo..."
Outro que levou que contar foi Joe Strummer, a voz dos Clash, num espectáculo em que o nosso Luisinho "quase andava à pêra com um gajo da segurança que estava com eles e tinha uma boina do IRA". Com o grupo em palco a tocar na maior desorganização, dado o adiantado estado de embriaguez e não só em que todos se encontravam, Strummer pediu a Luís Filipe Barros que o ajudasse a subir ao estrado. E o radialista deu o seu melhor: "Empurrei-o para o palco, mas quando chegou lá acima, embalado, faltaram-lhe as pernas e ele espalhou-se ao comprido à frente de dez mil pessoas. Foi um trambolhão monumental".
Em abono da verdade, deve dizer-se que Luís Filipe Barros tinha por hábito desencaminhar o pessoal para os copos, no "Snob ou no Bairro Alto", depois dos concertos. Uma noite levou o Stewart Copland a esse baluarte do bas-fond lisboeta que era o bar Jamaica, e o baterista dos Police gostou tanto que, bem bebido, "já estava a querer comprar aquilo..."
Outra vez o mítico fundador do aclamado programa Rock em Stock pegou nos aprumadinhos Spandau Ballet e ala até à Costa da Caparica, para almoço. Comeram sardinhas assadas e "adoraram", porém perderam-se pela aguardente. Emborcaram uma garrafa inteira, e desde esse dia - recordou o Luís -, "quando davam uma entrevista à MTV, diziam sempre que Portugal tinha a melhor bebida do mundo: o bagaço".
E enfim um extra. Luís Filipe Barros no camarim dos Bon Jovi. "Nunca tinha visto nem nunca mais voltei a ver uma cena assim: o baterista "Tico" Torres, em cuecas e de barrete na cabeça, passando as calças a ferro..."
P.S. - Publicado originalmente no dia 26 de Setembro de 2017. Hoje, 13 de Julho, é Dia Mundial do Rock.
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