Turismo de natureza
Aconteceu assim, no velho tempo do desconfinamento. Mal rompeu o dia, e não foi bem um romper, saltaram aos magotes para o
Passeio Atlântico, ali em baixo. São fáceis de identificar, famílias
inteiras vestidas de fato de domingo e telemóvel armado em máquina fotográfica, só lhes falta o
merendeiro. Querem saber com os próprios olhos se a Praia de Matosinhos
foi engolida pelo furacão, se pura e simplesmente desapareceu do mapa.
Ficam desiludidos: a praia está ali normalíssima da vida, inteira, cheia
de gente a jogar à bola.
Os magotes desmobilizam, as famílias tornam a casa, telemóveis murchos,
num desgosto que só
visto. Vão comer frango de churrasco, comprado, e assistir à desgraça
como deve ser na televisão. Para a semana, se Deus quiser, vão de bicicleta visitar
um eucaliptal que é uma categoria. São turistas de natureza. Quero
dizer: de natureza... duvidosa.
Quando as árvores morriam de pé
"Morta por dentro, mas de pé, de pé, como as árvores", dizia a Senhora Dona Palmira Bastos, batendo altaneira com a bengala no tablado, na beleza insubstituível do preto e branco da televisão antiga. A queridíssima Senhora Dona Palmira Bastos tinha quase noventa anos e ainda não sabia das motosserras.
O senhor do monte
Era uma alma sensível e só. Comovia-se com a natureza. Gostava de subir ao monte para ver as vistas. E ouvir as audições. E cheirar os olfactos...
Sem comentários:
Enviar um comentário