World’s news
A Rainha de Inglaterra faz uma gaifona
 vai à sua
 diz o pirata da perna de pau
 o espumante francês faz borbulhas na cona
 o marechal reformado bate a pala ao mau-mau.
 A avó do general partiu uma costela
 o filho do ministro anda a roer a corda
 não há pai para ele não há pau para ela
 o Eufrates secou e o Tejo transborda.
 O Senhor Reticências tem o nome suspenso
 durante cinco anos por ter votado em falso
 o povo come papa o Papa come incenso
 Maria Antonieta sobe ao cadafalso.
 O chulo da corista também subiu na vida
 cortem-lhe o caralho cortem-lhe o pescoço
 é preciso dinheiro é preciso comida
 é preciso pagar-se a fome do grosso.
 A Duquesa Larocas toca pandeireta
 o Barão do Balão toca xilofone
 a Marquesa da Aorta toca uma punheta
 a menina Decoro morreu ao telefone.
 Os jornais imorais anunciam que um bispo
 tem um filho na mitra e outro na barriga
 São Vicente de Dentro foi operado a um quisto
 a Madre Superiora usa faca na liga.
 Hiroxima Hiroxima meu amor gaseado
 uma bomba rebenta na cabeça dum rei
 a Senhora Camelo tem o sexo mudado
 sabia o que fazia o que fará não sei.
 O Cordeiro de Deus foi assado no espeto
 extraíram-lhe o bedum esfregaram-no com sal
 comeram-lhe os colhões deixaram-lhe o esqueleto
 tiraram-lhe o retrato para pôr num missal.
 Itae missa itae missa itété ou não é
 itótó itátá a Titi não está cá
 o Tutu dá o cu a Tété dá o pé
 o Senhor dá o pão que o fermento não dá.
 Meus Irmãos Meus Irmãos somos filhos da Virgem
 somos filhos das putas que nunca se casaram
 nosso pai é o tempo nossa mãe a vertigem
 somos feitos dos trapos que nunca se juntaram.
 Nascemos da orgia dos artigos de fundo
 do minete dos padres nas bordas dos ricaços
 do cuspo das beatas no Redentor do Mundo
 do gozo masoquista do Senhor dos Passos.
 Meus Irmãos Meus Irmãos é urgente lavarmos
 no bidé das palavras a uretra dos nobres
 mijarmos nos salões e depois ensaiarmos
 a reacção dos poetas na gazeta dos pobres.
 Meus Irmãos Meus Irmãos ensaiemos agora
 antes que seja tarde antes que seja cedo
 não há parto sem dor não há tempo sem hora
 é urgente rompermos a vagina do medo.
Ary dos Santos
(Ary dos Santos nasceu no dia 7 de Dezembro de 1936. Morreu no dia 18 de Janeiro de 1984.)
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