[...] O moço disse, serenamente, quase severo:
- É já de noite: eu vou levar-te a casa. Eu conheço o teu pai, e sempre lhe vou perguntar se isto são horas de deixar andar por fora uma mulher como tu.
- Cantés! - bradou Maria, elevando a voz, para que o fragor da torrente que gorgolejava entre as lajes brancas não lhe sumisse as palavras. Ela conhecia Francisco Teixeira, a quem as irmãs, criaturinhas espigadas e ladinas, celebravam muito, corando só de lhe pronunciar o nome. Lado a lado, caminhavam juntos naquele crepúsculo que a chuva fazia alvacento, brilhando ao cair, espelhando nos charcos, nas lamas, nas folhagens. O homem falava, e a sua voz era cheia duma ternura irónica que comunicava no coração da criança um desejo de esforço e uma emoção quente, de aliança, de gratidão. Chegaram, e disse Francisco Teixeira, antes de se despedir, enquanto do portal iluminado pelo fogaréu do lar o espreitavam as moças, mordendo-se de risos impulsivos, incontroláveis e maganos:
- Ora acautelem-me lá esta rapariga, que é com ela que eu vou casar... Adei...
"A Sibila", Agustina Bessa-Luís
(Agustina Bessa-Luís nasceu no dia 15 de Outubro de 1922. Morreu hoje.)
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