O inconsciente
O espectro familiar que anda comigo,
Sem que pudesse ainda ver-lhe o rosto,
Que umas vezes encaro com desgosto
E outras muitas ansioso espreito e sigo,
É um espectro mudo, grave, antigo,
Que parece a conversas mal disposto...
Ante esse vulto, ascético e composto,
Mil vezes abro a boca... e nada digo.
Só uma vez ousei interrogá-lo:
- Quem és (lhe perguntei com grande abalo),
Fantasma a quem odeio e a quem amo?
- Teus irmãos (respondeu), os vãos humanos,
Chamam-me Deus, há mais de dez mil anos...
Mas eu por mim não sei como me chamo...
"Sonetos", Antero de Quental
(Antero de Quental nasceu no dia 18 de Abril de 1842. Morreu em 1891.)
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