"Lisbon is a bum's nightmare; you can only survive it by getting drunk."
Um inglês mo disse, em pleno meio da noite, Cais das Colunas. Tivera eu
ido álcool adentro e talvez a cidade me passasse ao lado, desapercebida
- peso e dor ocultos remetidos à surdina com que de vez em quando, mesmo em plena euforia de prego a fundo nos gargalos, vinha até mim algo como um uivo ao longe; um soluço pulando na treva silenciosa das ancestrais misérias, e que fica a pairar como uma nuvem cheia de trovões. Ainda aí está, para quem saiba ler no vivo movimento.
Lisboa é triste. Deu por isso quem peregrinou atentamente pelas diversões borga nos becos da Capital, do Império. Melancolias. Não foram poucas vezes em que explodi a rir, como quem chora com quem chora, são-paulatinamente.
Os
veteranos: pus-me a pau por causa deles, está visto. Saltado fresco do
mês de Maria sussurrado para mais estridentes reinos (Cais do Sodré,
Mouraria), dei logo em meter os olhos nos que tinham precedido a minha
geração temporal em tais praças de ritmo. Penso neles quotidianamente, arrepiado.
E mais resmungo réquies lembrando a moribundação de vários
companheiros. Vi: grandes mecos da melhor extracção humana rapidamente
sorvidos; contaminação de quem, em vez de fazer vida, deixa que o tempo a esboroe com vagares de um oceano lamentável devorando o litoral.
De começo, tudo risota e toca-a-andar. Éramos muito novos e tínhamos as algibeiras cheias de possível - a única moeda inoxidável pela desvalorização normal.
"A Noite e o Riso", Nuno Bragança
(Nuno Bragança nasceu no dia 12 de Fevereiro de 1929. Morreu em 1985.)
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