Sou eu, passe a imodéstia. Por razões que não vêm ao caso, ultimamente tenho de usar muitas vezes a palavra virilhas. Ora acontece que, quando a quero dizer, ela - a palavra virilhas - não há maneira de me sair, geralmente varre-se-me da memória, e nem sequer posso alegar que a tinha na ponta da língua, porque também é um bocado chato. Nessas delicadas ocasiões vêm-me à cabeça a palavra narinas, sempre gostaria de saber porquê, a palavra tomates, é claro, e a palavra ínguas, sobretudo a palavra ínguas, que emerge do meu antigamente fafense e parece-me que anda por lá perto. Mas virilhas é que nada.
Fico razoavelmente encaralhado, e hoje por acaso não estou a inventar. Estou a ser o mais palavra de honra que há. Palavra de honra.
Que se segue: conto aos meus amigos a aflição deste estúpido bloqueio, e um diz-me "Quantos anos tens? Pois. Não ligues, pá, é normal, pá, é da idade, pá. Até tem piada. Comigo é a mesma merda, mas com a palavra pevides. Isso não é grave".
Não é grave, vírgula - isto já sou eu outra vez. Porque não se pode comparar virilhas com pevides. E pevides de quê? Pevides secas ou frescas? Nacionais ou importadas? Para aperitivo ou sementeira? Por outro lado, quando eu preciso da palavra virilhas é geralmente para a dizer a senhoras. E, na angustiante ausência da palavra, acabo por acudir-me das mãos e do gesto para conseguir explicar-me. Estão a ver onde me agarro? E acham isso bonito?...
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