Em mim,
ó inominado, ó infigurado,
ó transfigurado,
em mim subsistes.
Sémen primeiro e perene,
aparição absurda no vazio,
nódulo subtil e diáfano,
continente microcósmico de todo o cósmico,
ímpeto puro, movimento puro,
espectacular súbito actor original,
haver ser no não-ser,
espaço conquistado ao nada,
tempo inventado,
átomo, molécula, ínfima partícula,
verbo indizível,
minúsculo, majestoso,
pequena gigantesca energia,
forma matéria achada,
em mim subsistes,
existes,
persistes,
vives crescendo até à altura do infinito,
teu-meu fito
neste atroz, maravilhoso porto
em que me debato.
Noite alta,
o sonho explode, a angústia, esperança,
saudade,
estranheza de entre-acordar e entre-viver,
emersão em véus, objectos, emoções que se dissipam
num quotidiano mal recuperado.
Noite alta, ó inominado,
sou em ti o enigma de aparecer, de aparecer-me
e ser.
"Imitação do Homem", António Quadros
(António Quadros nasceu no dia 14 de Julho de 1923. Morreu em 1993.)
"Imitação do Homem", António Quadros
(António Quadros nasceu no dia 14 de Julho de 1923. Morreu em 1993.)
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