quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Redacção (exactamente: cção)

A televisão é muito importante. Gosto de ver na televisão as redacções das televisões porque nas redacções das televisões que dão na televisão não há cadeiras partidas. Durante muitos anos trabalhei em muitas e variegadas redacções, na rádio e sobretudo na imprensa, mas nunca na redacção de uma televisão.
Nas redacções onde eu trabalhei as cadeiras eram todas mancas e andávamos à pancada por uma que se segurasse mais ou menos. O sobrevivente marcava a sua cadeira para toda a vida, mas quando virava costas já ela estava debaixo do cu de outro. E andávamos outra vez à pancada. Foi por isso que, quando chegou a altura de nos mandarem para o olho da rua, e mandaram, e continuam a mandar, estávamos sem forças para irmos às ventas dos bandalhos que fazem ofício de destruir redacções e que têm cadeiras da televisão. Feitas de cortiça.
A televisão é muito boa porque dá na televisão. Eu gosto muito da televisão.

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Televisão.

Telelixo, realmente

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Tocavam sempre duas vezes

Os carteiros de Fafe eram homens poderosos. Traziam dinheiro, levavam notícias e, sobretudo, sabiam tudo de toda a gente. A vida toda. A situação económica, a saúde, o casamento, os filhos, as inclinações políticas, desportivas e religiosas, sabiam de quem saltava o muro ou mijava fora do penico. Sabiam de mortos e de vivos. De virgindades, desconsolos, infidelidades e viúvas. Isso, de viúvas é que eles sabiam! E eram casamenteiros. Viesse algum homem de fora à procura de uma viúva fafense ainda em uso para casar, era só perguntar ao carteiro. Ele levava o pretendente à porta certa. Para os nossos carteiros, não havia segredos na vila e arredores. Seriam um perigo, se por acaso não fossem também boas pessoas - e realmente eram-no.
A Polícia daquele tempo vestia uma farda de terilene cinzento, que era a cor da Autoridade e do País. Os carteiros também vestiam de cinzento, com boné e tudo, mas em cotim. A outra diferença é que os carteiros eram nossos amigos. Gente de categoria, profissionais prestáveis, pessoas decentes. Fafenses excelentíssimos, sem dúvida e sem favor.
Lembro-me do João da Quintã, irmão do Avelino do Café e casado com a Deolinda do Tónio Quim Calçada, o João que depois desistiu de ser carteiro e foi com a família para o Canadá, se não estou em erro. Lembro-me do António Cunha, também bombeiro e assíduo camarada de conversa. Lembro-me do bom Belarmino Freitas, casado com a Licinha Mota da Casa Satierf, que queria dizer Freitas ao contrário. Lembro-me evidentemente do pândego Aristides e estou em crer que ainda me lembro também do pai do Aristides, o carteiro Egídio, se a memória não me atraiçoa. Deveria decerto lembrar-me de mais ilustres carteiros da nossa terra, parece-me até que estou a vê-los, os rostos, as figuras, o modo de andar, mas infelizmente não me ocorrem os nomes que lhes correspondam. E peço desculpa pela involuntária omissão.
Para além de poderosos, eram intrépidos os nossos carteiros. Valentes. A calcantes, de bicicleta chocolateira ou numa velha motorizada de serviço, saca de couro a tiracolo, enfrentavam as mais violentas intempéries e até cães. E eram persistentes. Tocavam sempre duas vezes, como no cinema, e três e quatro e cinco e seis, tantas vezes quantas fossem necessárias para serem atendidos, se sabiam - e sabiam sempre - se havia gente em casa. Eles é que decidiam o que era urgente e o que podia esperar para o dia seguinte. Se fosse preciso, tratando-se de dinheiro ou de documentação importante com prazos a respeitar, diligências melindrosas que não podiam nem deviam ficar ao cuidado de vizinhos, então eles próprios, os carteiros, extrapolando obrigações e abandonando a rota determinada, iam à procura dos destinatários aos sítios alternativos do costume, aos locais mais extraordinários mas já conhecidos, habituais, na feira, na poça, no tanque público, no rio, nos campos, no café, no tasco, no campo da bola, à porta da igreja, palavra de honra, era mesmo assim que as coisas se passavam. 
"Que nós bem, graças a Deus", dizíamos nas cartas que mandávamos aos nossos entes queridos, e estava certo, quero acreditar. Graças a Deus, que tudo sabe e por todos olha. Mas também graças aos carteiros. Pelo menos os de Fafe não Lhe ficavam muito atrás. E por eles esperávamos, ansiosos mas confiantes, "até à volta do correio"...

P.S. - "O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes" é um dos mais famosos romances do jornalista e escritor norte-americano James M. Cain. Adaptado para o cinema por David Mamet, deu origem ao filme homónimo de Bob Rafelson, com Jack Nicholson e Jessica Lange.

Mulher amiga...

Com aquela caloraça, a mulher comprou-lhe um pijama de Verão por acaso bem jeitoso. Chamou-o ao quarto, abriu o gavetão e disse-lhe: - Estás a ver? Gostas? Fica aqui guardadinho para quando fores para o hospital... 

P.S. - Hoje é Dia Nacional do Pijama.

The woman

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 19 de novembro de 2024

A actriz

Ficou famosa por ser a primeira mulher a fazer de Super-Homem.

P.S. - Hoje é Dia Internacional do Homem.

O Super-Homem

Admitiu finalmente que era ele o Super-Homem e, verdade seja dita, ficou muito admirado por sê-lo.

P.S. - Hoje é Dia Internacional do Homem.