Há muitas maneiras de o dizer, deste e do outro lado do mar: beber,
alcoolizar-se, emborrachar-se, embriagar-se, inebriar-se, tachar, tomar,
encharcar, chumbar-se, avinhar-se, enfrascar-se, ficar de pileque,
alto, grosso, mamado, tomar um porre, praticar desporto líquido, molhar os pés,
ficar como um escalo, como uma nabo, como um cacho, como um avião, ficar
doente, indisposto, apanhar uma ramada, uma piela, uma perua, uma
bebedeira, uma carraspana, uma borracheira, uma cardina, um pifo, uma tosga, uma
touca. Mas: perder a mondinense, suponho que só em Fafe se dirá. Ou
dizia. Perder a mondinense.
A Mondinense disputava então com a
João Carlos Soares o negócio do transporte rodoviário colectivo de
passageiros entre Porto e Fafe e vice-versa. Eu era passageiro. Os
asmáticos autocarros da Mondinense, que, se não me engano, faziam a
viagem pela serra da Agrela, via Santo Tirso, numa espécie de breve
apresentação turística à Rota da Prostituição de Baixa Montanha, tinham
escritório numa obscura garagem à beira do desabamento e tresandando
explosivamente a mijo, vomitado, fumo e gasóleo, ali para os lados do
portuense Jardim de São Lázaro. A Mondinense era isso. E a João Carlos
Soares é Arriva.
A explicação da expressão nossa? Quer-se dizer:
bebia-se e perdia-se a memória e esqueciam-se as horas. Esqueciam-se as
horas e bebia-se e perdia-se a memória. Perdia-se a memória e
esqueciam-se as horas e bebia-se. E assim se perdia a mondinense.
P.S. - O textinho acima escrevi-o e publiquei-o no dia 10 de Fevereiro de 2019. Acontece que entretanto fui a Fafe. Fui a Fafe dar um beijo à minha mãe, e perdi a mondinense. Perdi-a de felicidade, com os meus, que é o melhor que se pode ter. E ainda por cima, digo-o em legítima defesa, há anos que abandonei a modalidade e por isso não vou aos treinos. Fui a Fafe. E é raro agora ir a Fafe ou sequer à rua, por causa de vários porcausas. Estava tão feliz, que fiquei contente - no belo eufemismo familiar que usamos para o assunto em apreço. Perdi a mondinense mas cheguei a casa são e salvo. O meu querido filho, coitadinho, que, não desfazendo, é como se fosse meu filho, levou-me e trouxe-me na prise, com a bonomia e a paciência dos bons, dos puros. Foi exactamente há uma semana, estou a recuperar muito bem e, mais mês menos mês, agarrem-me pronto para outra...
Sem comentários:
Enviar um comentário