domingo, 17 de fevereiro de 2019

Microcontos & outras miudezas 127

Retrovisor
Retrovisor é notoriamente um visor retro (retrô, se lido no Brasil). Retro, diz a Wiki, é um estilo cultural desactualizado ou velho, uma tendência, hábito, ou moda do passado pós-moderno global, mas que, com o tempo, se torna funcionalmente ou superficialmente a norma mais uma vez. Visor, diz o velho dicionário da Porto Editora, é um dispositivo dos aparelhos fotográficos que permite apanhar um campo fotográfico ajustado ao enquadramento e composição desejados, e que, em muitos casos, permite também verificar as condições de focagem. Temos portanto que: retrovisor é um dispositivo dos aparelhos fotográficos que permite apanhar um campo fotográfico ajustado ao enquadramento e composição desejados, e que, em muitos casos, permite também verificar as condições de focagem, num estilo cultural desactualizado ou velho, numa tendência, hábito, ou moda do passado pós-moderno global, mas que, com o tempo, se torna funcionalmente ou superficialmente a norma mais uma vez. Retrovisor.

P.S. - Por favor, não confundir retro (retrô, se lido no Brasil), com clássico ou vintage (vintage, se lido no Brasil).

Quando se perdia a mondinense
Há muitas maneiras de o dizer, deste e do outro lado do mar: beber, alcoolizar-se, emborrachar-se, embriagar-se, inebriar-se, tachar, tomar, encharcar, chumbar-se, avinhar-se, enfrascar-se, ficar de pileque, alto, mamado, tomar um porre, praticar desporto líquido, molhar os pés, ficar como um escalo, como uma nabo, como um cacho, como um avião, ficar doente, indisposto, apanhar uma ramada, uma piela, uma perua, uma bebedeira, uma carraspana, uma borracheira, uma cardina, um pifo, uma tosga, uma touca. Mas: perder a mondinense, suponho que só em Fafe se dirá. Ou dizia. Perder a mondinense.
A Mondinense disputava então com a João Carlos Soares o negócio do transporte rodoviário colectivo de passageiros entre Porto e Fafe e vice-versa. Eu era passageiro. Os asmáticos autocarros da Mondinense, que, se não me engano, faziam a viagem pela serra da Agrela, via Santo Tirso, numa espécie de breve apresentação turística à Rota da Prostituição de Baixa Montanha, tinham escritório numa obscura garagem à beira do desabamento e tresandando explosivamente a mijo, vomitado, fumo e gasóleo, ali para os lados do portuense Jardim de São Lázaro. A Mondinense era isso. E a João Carlos Soares é Arriva.
A explicação da expressão nossa? Quer-se dizer: bebia-se e perdia-se a memória e esqueciam-se as horas. Esqueciam-se as horas e bebia-se e perdia-se a memória. Perdia-se a memória e esqueciam-se as horas e bebia-se. E assim se perdia a mondinense.

Quem sai aos seus
Deixe de ser parvo, disse o palerma. E você deixe de ser palerma, disse o parvo. Palerma é melhor que parvo, disse o palerma. Parvo é que é melhor que palerma, disse o parvo. Quem disse, perguntou o palerma. O meu pai, respondeu o parvo. O seu pai é parvo, disse o palerma. E o seu é palerma, disse o parvo. Mas o meu pai é mais palerma que o seu, disse o palerma. E o meu é mais parvo que o seu, disse o parvo. Mas não é palerma, disse o palerma. Nem o seu é parvo, disse o parvo. Dah!, disse o palerma. Dah!, disse o parvo.

A mão que cumprimentou Agostinho da Silva
Uma vez tive a sorte de encontrar-me com mestre Agostinho da Silva. Ainda hoje guardo a mão com que o cumprimentei.

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