Mostrar mensagens com a etiqueta natas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta natas. Mostrar todas as mensagens

domingo, 22 de dezembro de 2024

Bacalhau com natas (à moda de Fafe)

Foto Hernâni Von Doellinger

Gosto muito. Bacalhau com natas. Bacalhau recheado, da parte da asa, feito por quem sabe, isto é, por mim, conversado a par e passo com um verde branco honesto e fresco. E depois, antes do café por recomendação médica, uma natinha do Lidl, a 39 cêntimos cada, para escorropichar a garrafa. Foi o que eu disse. Bacalhau com natas.

Ou por outra. Um bom minhoto, um fafense como deve ser, sabe muito bem que bacalhau recheado não é bacalhau recheado. Ou seja, o bacalhau não tem recheio nenhum. É bacalhau frito de cebolada, bacalhau delgado, as badanas ou aparas, rabos ou laterais, e nem é frito frito, mas admitamos que frito quase refogado, com umas voltinhas que são próprias cá de cima. É o bacalhau recheado à nossa moda, recomendadíssimo sobretudo para o tempo de calor e férias, comido se possível com família e amigos à sombra de uma ramada, e o vinho a refrescar no poço. E também concordo que a coisa ficaria muito melhor rematada com dois ou três dos também nossos doces de gema, de Arões ou Fornelos, mas, quer-se dizer, assim já não seria bacalhau com natas...

P.S. - Viva o bacalhau! Viva o Natal!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A solução é dar ao dedo

Há que tempos que eu não via uma coisa assim: uma mulher, ainda nova, a fazer malha num transporte público. Descontraída, com um sorriso nos lábios e manuseando habilmente o frenético par de agulhas, como num duelo, ia dando forma ao novelo de lã que, aos arranques, se lhe esvaía do colo. Era uma camisola, pareceu-me. E, a cena, um delicioso anacronismo. O metro do Porto é sítio para tudo, já lhes digo, principalmente para tudo o que meta telemóvel, bisnagas e calhamaços do José Rodrigues dos Santos. Mas fazer tricô é que eu nunca tinha visto. E gostei.
Passaram-se dois dias. Num jardim fronteiro à praia de Matosinhos, um jovem casal gozava o sol de Inverno e aproveitava para ensinar a filhita a andar de bicicleta. O pai acompanhava a menina, dando-lhe as instruções elementares, mas a mãe sentou-se. Sentou-se, abriu a bolsa, rapou de um pequeno embrulho que eu primeiro não distingui e, com a agilidade de um experimentado bonecreiro, começou a bater-se com quatro-agulhas-quatro, tantas quantas são precisas para tricotar meias de lã. Era o que ela fazia, uma meia. E percebi.
Percebi que isto não é só gosto, moda ou revivalismo. É sobretudo precisão. Voltámos ao pior do tempo antigo. O Portugal democrático, da Europa, das auto-estradas, das universidades e do século XXI é afinal igual ao Portugal fascista e "orgulhosamente só", poeirento e obscurantista do tempo em que a minha mãe, por necessidade, fazia todas as minhas camisolas e as camisolas dos meus irmãos. (E que categoria que elas eram! Tenho uma comigo vai para 35 anos, acreditam?)
Por outro lado, lembrei-me, pode estar exactamente aqui a salvação do País. Permitam-me que lance o desafio: por que não transformar o tricô num desígnio nacional? Porque não começarmos todos a fazer malha para fora? Porque não pôr este país de desempregados a dar ao dedo de Norte a Sul e ilhas, elas e eles, e apostar na internacionalização e exportação em barda das nossas peças de lã? Sim, porque não? O Álvaro da Economia que me desculpe, mas o que é que as natas e os pastéis de Belém são mais do que os barretes, os camisolões, os carapins e os coturnos genuinamente made in Portugal?