quinta-feira, 1 de setembro de 2022

O Sousa das marchas

A frase era: "E ao iniciarmos os nossos trabalhos, a todos desejamos uma muito boa tarde". Mas só funcionava se fosse metida no meio de uma marcha militar de John Philip Sousa, que para mim era um músico português de Castelo de Paiva que tinha ido para a América em pequenino. Eu sabia que no Pejão, acolá nas redondezas, havia por aquela altura uma grande banda de música, quase tão boa como a nossa, a de Revelhe, e era por isso. Quanto à marcha propriamente dita, de preferência "Stars And Stripes Forever". Isso, sim, era serviço profissional. Serviço completo.

Os domingos à tarde da minha infância eram os melhores dias do mundo. Até tinham altifalantes e fanfarra. E eu adorava os altifalantes e a música. Os altifalantes chamavam por mim e eu ia hipnotizado como um rato atrás do flautista de Hamelin. As marchas de John Philip Sousa eram o indicador, o indicativo. Eram sinal de futebol no Campo da Granja, eram Festa da Bomba, eram o Santo António na minha rua, eram a Senhora de Antime que descia à vila numa tremenda e comovente procissão, a banda no fim, à ordem do bombo mas a toque de caixa, debitando uma interminável ladainha de preguiçosos e compungidos "Queremos Deus"...

P.S. - Publicado originalmente no dia 10 de Janeiro de 2013. O fenomenal John Philip Sousa - compositor, maestro, militar, atirador desportivo, escritor e etc. - era de facto luso-americano, filho de pai português de origem açoriana. Os camones chamam-lhe Suza, como a da mala de cartão. E hoje é Dia Nacional das Bandas Filarmónicas.

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