Escova que sacodes, paninho que
espanejas, o homem estava de boca aberta com as habilidades do garoto. "Donde é
ele?", perguntou ao gordo. "Angola?"
E o gordo,
desinteressado:
"São Tomé."
"Conheço mas passei de largo",
disse o Johnny. "Tubarões por toda a parte. Que idade tens tu, rapaz?"
"Onze anos."
O Johnny dos Sete Mares
assoprou um sorriso desgostoso: "Onze anos." Então contou que aos onze anos, na
América, toda a criança preta estava no liceu. "E ainda dizem que isto aqui não
é África."
O gordo concordou, com o
charuto.
"África e bem África", voltou a
dizer o Johnny. "Na América um preto pode ser rico, pobre, o que quiser. O Joe
Louis, não vamos mais longe. Pode ser milionário, pode ser artista de cinema,
pode ser músico, tudo. E aqui? Aqui a que é que esta criança está destinada?
Casa Africana, e é um pau. Engraxador ou mascote da Casa Africana. E é preciso
que haja vaga, ainda há mais essa."
"O Burro-em-Pé", José Cardoso Pires
(José Cardoso Pires nasceu no dia 2 de Outubro de 1925. Morreu em 1998.)
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