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Ora, todo mundo sabe que Zequinha fugiu com a mulher do vereador. Jogava tão bem, que ela fugiu com ele...
Os rapazes só contavam agora com a mediação de Dona Maria que não estava bem, depois que lhe nascera a criança.
Daí por diante, nunca mais se bateu bola no cemitério. Reforçada a vigilância, meus fantasmas não apareciam.
Fiquei mais triste. Agora, nem para voar até o arraial tenho força. Para nada, aliás, tenho mais forças.
Já não percebo bem o que se passa atrás dos muros. A paisagem se dissolve ao meu olhar que está se apagando.
Parece que ainda resta para os ouvidos um canto de lavadeira batendo roupa. Tão longe...
Mas está acontecendo qualquer coisa lá na entrada. O portão se abriu todo! O povo chegando!...
Ah, é a senhora?! Pois entre, a casa é sua... Eu, sozinho, já não podia responder por todo este cemitério. Estou sumindo... O espaço endureceu. Meu prazo terminou.
Só vejo figuras opacas imobilizadas no gesto de chutar a bola. E essa coisa fixa, mancha final de luz remota que deve ser o Sol.
"O defunto inaugural - Relato de um fantasma", Aníbal Machado
(Aníbal Machado nasceu no dia 9 de Dezembro de 1894. Morreu em 1964.)
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