Gaiolas
- Boa tarde. Faz gaiolas?
- Por medida.
- Faz-me uma?
Fez.
- E para pássaros?...
Uma atençãozinha
Fazia sempre uma atençãozinha especial àquela cliente. Às vezes às pernas, outras vezes ao decote e regra geral ao rabo.
O viagra ao poder!
Estava aqui a pensar: do que nós precisávamos realmente era de um verrumador
encartado que nos tomasse conta do País. Sinceramente não sei se há alguém à
altura em Portugal, mas o viagra está aí para alçar o que for preciso, digamos assim.
Convinha-nos, creio, um estadista da casta de um John F. Kennedy, de um Bill
Clinton, de um François Mitterrand, tão presidentes quanto adúlteros, mesmo de um nojento Donald Trump, ou
até de um Dominique Strauss-Kahn, esse predador sem vergonha e de
colarinho branco que não descansou enquanto não fodeu todas as
hipóteses que tinha de suceder a Nicolas Sarkozy, outro sedutor, no
Palácio do Eliseu.
Mas o máximo era conseguirmos um borguista tipo
Silvio Berlusconi, o octogenário italiano que, segundo o
língua-de-trapos do seu médico
pessoal, ainda aqui atrasado podia "ter, sem exagero, seis relações
sexuais por semana",
desde que descansasse ao domingo, derivado à religião.
Um homem assim é que era bom. Alguém que se concentrasse realmente no
essencial - a mulherenguice - e que, por favor, nos saísse de cima.
Má sorte ser-se pega
A notícia espalhou-se como fogo em mato seco: um automobilista
acabara de atropelar mortalmente uma pega, toda esmigalhadinha.
Assassino! Assassino! Juntaram-se imediatamente a Quercus, o PAN, sobretudo o PAN, a Protectora dos
Animais, a Greenpeace, dois dirigentes da Juve Leo, trinta e dois
indignados das redes sociais, quatrocentos youtubers, seis cães que
tinham levado os donos a almoçar fora e vários
elementos do movimento cívico e espontâneo SOS Grilo Careca de Asa
Redonda e Perna Curta, que está muito bem organizado para estas
emergências.
Rodearam o carro, arrancaram o automobilista cá para fora e encheram-no
de carolos e caneladas, para ele aprender. Só não chegaram ao
linchamento porque, regra geral, desconheciam a palavra linchamento, e os poucos que
a conheciam de vista confundiam-na com lixamento e achavam que, para
lixar o energúmeno, os carolos e as caneladas já estavam muito bem.
Apareceu a
GNR. A autoridade aproveitou para também molhar a sopa, quer-se dizer, o
automobilista caiu sozinho sobre duas secretárias e esbarrou-se sem
ninguém lhe tocar num armário ali no meio da via, e, posto isto, foi-lhe
ordenado que se explicasse. O automobilista explicou-se. E convenceu.
A Quercus, o PAN, sobremaneira o PAN, a Protectora dos Animais, a Greenpeace, os dirigentes da Juve Leo, os trinta e dois indignados das redes sociais, os quatrocentos youtubers, os seis cães da vida airada, os espontâneos do SOS Grilo Careca de
Asa Redonda e Perna Curta e a própria GNR fartaram-se de pedir
desculpas ao homem e até lhe deram os parabéns e os primeiros-socorros. Tudo não passara de um
pequeno mal-entendido, erro de comunicação. Afinal o automobilista não
tinha morto uma pega ou Pica pica
melanotos, seria uma tragédia de facto, tinha apenas atropelado mortalmente uma
pega meretriz de beira de estrada, solteira e mãe de três filhos, toda
esmigalhadinha. É chato, mas são coisas que acontecem...
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