sexta-feira, 14 de junho de 2019

Microcontos & outras miudezas 145

Gaiolas
- Boa tarde. Faz gaiolas?
- Por medida.
- Faz-me uma?
Fez.
- E para pássaros?...

Uma atençãozinha
Fazia sempre uma atençãozinha especial àquela cliente. Às vezes às pernas, outras vezes ao decote e regra geral ao rabo.

O viagra ao poder!
Estava aqui a pensar: do que nós precisávamos realmente era de um verrumador encartado que nos tomasse conta do País. Sinceramente não sei se há alguém à altura em Portugal, mas o viagra está aí para alçar o que for preciso, digamos assim. Convinha-nos, creio, um estadista da casta de um John F. Kennedy, de um Bill Clinton, de um François Mitterrand, tão presidentes quanto adúlteros, mesmo de um nojento Donald Trump, ou até de um Dominique Strauss-Kahn, esse predador sem vergonha e de colarinho branco que não descansou enquanto não fodeu todas as hipóteses que tinha de suceder a Nicolas Sarkozy, outro sedutor, no Palácio do Eliseu.
Mas o máximo era conseguirmos um borguista tipo Silvio Berlusconi, o octogenário italiano que, segundo o língua-de-trapos do seu médico pessoal, ainda aqui atrasado podia "ter, sem exagero, seis relações sexuais por semana", desde que descansasse ao domingo, derivado à religião.
Um homem assim é que era bom. Alguém que se concentrasse realmente no essencial - a mulherenguice - e que, por favor, nos saísse de cima.

Má sorte ser-se pega
A notícia espalhou-se como fogo em mato seco: um automobilista acabara de atropelar mortalmente uma pega, toda esmigalhadinha. Assassino! Assassino! Juntaram-se imediatamente a Quercus, o PAN, sobretudo o PAN, a Protectora dos Animais, a Greenpeace, dois dirigentes da Juve Leo, trinta e dois indignados das redes sociais, quatrocentos youtubers, seis cães que tinham levado os donos a almoçar fora e vários elementos do movimento cívico e espontâneo SOS Grilo Careca de Asa Redonda e Perna Curta, que está muito bem organizado para estas emergências. Rodearam o carro, arrancaram o automobilista cá para fora e encheram-no de carolos e caneladas, para ele aprender. Só não chegaram ao linchamento porque, regra geral, desconheciam a palavra linchamento, e os poucos que a conheciam de vista confundiam-na com lixamento e achavam que, para lixar o energúmeno, os carolos e as caneladas já estavam muito bem.
Apareceu a GNR. A autoridade aproveitou para também molhar a sopa, quer-se dizer, o automobilista caiu sozinho sobre duas secretárias e esbarrou-se sem ninguém lhe tocar num armário ali no meio da via, e, posto isto, foi-lhe ordenado que se explicasse. O automobilista explicou-se. E convenceu. A Quercus, o PAN, sobremaneira o PAN, a Protectora dos Animais, a Greenpeace, os dirigentes da Juve Leo, os trinta e dois indignados das redes sociais, os quatrocentos youtubers, os seis cães da vida airada, os espontâneos do SOS Grilo Careca de Asa Redonda e Perna Curta e a própria GNR fartaram-se de pedir desculpas ao homem e até lhe deram os parabéns e os primeiros-socorros. Tudo não passara de um pequeno mal-entendido, erro de comunicação. Afinal o automobilista não tinha morto uma pega ou Pica pica melanotos, seria uma tragédia de facto, tinha apenas atropelado mortalmente uma pega meretriz de beira de estrada, solteira e mãe de três filhos, toda esmigalhadinha. É chato, mas são coisas que acontecem...

Sem comentários:

Enviar um comentário