Apetece-me desmanchar a cama, arranjá-la de maneira que desapareça da minha vista a dobra branca do lençol com a barra cor-de-rosa. Parece-me branca demais a roupa daquela cama. Há qualquer coisa que dói em mim, de olhar aquela brancura. O quarto do meu exílio devia ser nu como uma cela. Nada de móveis e muito menos uma cama assim, semiaberta, ostentando a alvura convidativa dos lençóis, impondo-a silenciosa, teimosamente, em todos estes segundos que conto um a um e a que sinto perfeitamente a duração.
"Autobiografia de Uma Mulher Romântica", Natália Nunes
(Natália Nunes nasceu no dia 18 de Novembro de 1921. Morreu no passado mês de Fevereiro.)
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