Lapsus linguae
Entrou e gritou: mãos ao ar, isto é um assalto. Ficou admirado. O que
ele queria dizer era: alto e pára o baile - desesperado com aquele
forrobodó todas as noites no andar de cima. Mas estava dito, estava
dito: desceu com um LCD de 100 polegadas, uma mesa de DJ, seis colunas
de som surround, um globo espelhado, oito CD do Quim Barreiros, dois tablets,
quatro telemóveis, sete relógios - um de sala -, seis pulseiras, cinco
colares, doze pares de brincos, dois pacotes de batatas fritas, meia
piza familiar de cogumelos e fiambre, um pacote de Sugus morango e
framboesa, nove gramas de haxixe, garrafa e meia de vodka, duas
canecas de sangria, vazias, três garrafas de Casal Garcia, treze cartões
de crédito, um vale de reforma e 837 euros em numerário.
Jesus Cristo, procura-se
A polícia anda à procura de Jesus. O Ministério Público pretende
acusá-l'O de incentivo à violência em Jo 8, 7 e subtracção e ocultação de
cadáver em Lc 24, 1-3.
O fim do Inferno é mau para o negócio
Evidentemente o Inferno não existe. O Papa tem razão, e se calhar
ouviu-me ou leu-me não sei quando nem onde. Mas a Igreja não pode
admitir semelhante franqueza: porque o Inferno é a bomba atómica do
catolicismo. Sem Inferno, o que é que a Igreja em sotaina tem para ameaçar ou
dissuadir os seus fiéis? "Olhai, amai-vos uns aos outros"? Seria de rir,
se não fosse obsceno. Para além disso, o fim do Inferno é mau para o
negócio...
Mal comparando 11
Os chineses têm razão: entre tratos de polé e tratos de puré não vai assim tanta diferença...
Foi um peido que me fugiu...
O Dia dos Enganos era celebrado em Fafe com pompa e circunstância. Era
uma tradição. Na minha terra, naquele tempo, festas assim familiares
como por exemplo o Entrudo tinham as suas normas, liturgia própria. Pelo
Entrudo, se me dão licença, eram os peidos-engarrafados no Cinema, um
fedor que eu sei lá mas uma risota, ou se calhar um risoto, como hoje será mais fino.
Durante o resto do ano, no Cinema, só peidos biológicos, caseiros, que,
não desfazendo, também eram uma categoria. Eram peidos subversivos,
contra o governo, que nos alimentava a couves e tínhamos de as comprar. Mas o
Dia dos Enganos, que foi ao que vim: no Dia dos Enganos saíamos para a
rua, ali no Santo Velho, estrategicamente colocados entre os tascos do
Paredes e do Zé Manco, e dizíamos a quem passava: - Ó senhor, olhe o que lhe
caiu!...
- Foi um peido que me fugiu... - levávamos de resposta, que também fazia parte. Um sucesso!
É,
bons tempos: pobretes mas alegretes. Os peidos eram o
nosso escape natural, o epítome do divertimento que se podia...
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