Coração de gelo
Chego. Beijo-te a mão. E volves-me o teu rosto
Num gesto insultador que me abate e contrista.
Negas-me a tua voz e o teu olhar, composto
De brilhos de tristeza e brilhos de ametista.
E então, no íntimo ardor de um oculto desgosto,
Fico a pensar em ti, que enches a minha vista
E enches meu coração de um sonho de conquista
Que nasce de manhã e que morre ao sol-posto.
Alma transcendental! teu orgulho, no entanto,
Hei de ainda domá-lo, hei de ainda vencê-lo,
Ou por bem ou por mal, com beijos ou com pranto...
Hás de chorar ainda, arrependida e em zelo,
Que eu tanto hei de fazer, hei de adorar-te tanto,
Que um dia hei de aquecer-te o coração de gelo!
Nuto Santana
(Benevenuto Silvério de Arruda Sant'Anna, que assinava Nuto Santana, nasceu no dia 5 de Setembro de 1889. Morreu em 1975.)
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