sexta-feira, 22 de maio de 2015

Holmes, Sherlock Holmes

- O meu cérebro - disse Sherlock Holmes - revolta-se contra a estagnação. Dê-me problemas, dê-me trabalho, dê-me o mais abstruso criptograma, ou a mais intrincada análise, e estarei no meu elemento. Detesto a rotina monótona da existência. Preciso de ter a mente em efervescência. É por isso que escolhi esta minha profissão especial, ou melhor, criei-a, porque sou o único no mundo a exercê-la.- O único detective particular? - perguntei, erguendo uma sobrancelha.
- O único detetive particular consultivo - redargüiu ele. - Sou o mais alto tribunal de apelação em matéria de pesquisa criminal. Quando Gregson, ou Lestrade, ou Athelney Jones se vêem em maus lençóis, como aliás é o seu estado normal, o assunto é-me apresentado. Examino os dados como um técnico e dou um parecer de especialista. Não procuro honras nesses meus trabalhos, O meu nome não aparece nos jornais. O trabalho em si, o prazer de encontrar um campo para as minhas faculdades específicas, é a única recompensa que pretendo. De mais a mais, você já teve algum contacto com os meus métodos de trabalho no caso de Jefferson Hope.
- É verdade - confirmei com entusiasmo. - E impressionaram-me de tal modo que até condensei o assunto numa pequena brochura com o título meio fantástico de Um Estudo em Vermelho.
Holmes abanou a cabeça tristemente.
- Passei os olhos por ela - disse ele. - Sinceramente, não posso felicitá-lo. A investigação é, ou devia ser, uma ciência exacta e, como tal, tratada de maneira fria e sem a menor emoção. Você procurou dar-lhe certo colorido romântico, o que produz o mesmo efeito de uma história de amor ou de um rapto transformados na quinta proposição da geometria euclidiana.

"O Signo dos Quatro", Sir Arthur Conan Doyle

(Arthur Conan Doyle, médico e escritor britânico, famoso criador do ainda mais famoso detective Sherlock Holmes, nasceu no dia 22 de Maio de 1859. Morreu em 1930.)

Sem comentários:

Enviar um comentário