terça-feira, 18 de dezembro de 2012

As boas-festas do meu padrinho

O meu padrinho (esq.) e o meu pai, músicos da Banda de Revelhe

O meu padrinho era sempre o primeiro. Entrávamos no mês de Dezembro, o telefone cá de casa tocava e eu sabia mesmo antes de atender: era o meu padrinho para nos desejar boas festas. Eu retribuía ligando-lhe duas ou três semanas depois, ao cair da noite de 24, já nos prolegómenos da ceia de Natal. O meu padrinho bem percebia a minha malandrice, mas fazia de conta que não. E no ano seguinte lá tornava ele à jogada de antecipaçãozíssima.
O meu padrinho era um homem muito bom. Tão profundamente bom que não sabia ser mau, mesmo quando queria ou precisava. Nessas ocasiões faltava-lhe a voz, soava a falso. E eu achava-lhe um piadão. E respeitava-lhe a bondade.
O meu padrinho chamava-se Américo e decerto por causa dele é que carrego este extraordinário nome de Américo Hernâni, que devia ganhar um prémio. Mas eu perdoo-lhe. Por outro lado, com um nome assim eu só podia dar portista. E dei. Foi a minha sorte. Agradeço ao meu padrinho.
O meu padrinho era meu tio, o meu tio Mérico. Era o irmão a seguir do meu pai. Depois havia o mais novo, o meu tio Zé da Bomba, que era da Bomba para distinguir do tio Zé de Basto.
O meu pai morreu num Natal gelado e francês, muito antes do tempo e sem aviso. E os irmãos resolveram ir ter com ele, uns anos mais tarde, primeiro um, depois o outro, como se também não tivessem mais nada para fazer por cá e estavam redondamente enganados.
Portanto já vamos a 18 e faltam-me as boas-festas do meu padrinho, é o que se passa. O primeiro agora é o meu primo Miguel, filho do tio Zé e também afilhado do tio Mérico. O Miguel ficou com a pasta e está certo: tinha de ser um Bomba. E eu gosto do Miguel. Mas... não é a mesma coisa.

4 comentários:

  1. Obrigado Nane. Sempre no meu coração como irmao mais velho. E em boa verdade o dizes : eles fazem mesmo muita falta.Com o padrinho festejei os ultimos natais em Fafe, na Botica ( Silvares), onde faziamos uma equipa tremenda na sueca!Com a falta dos dois nunca mais tive Natal em Fafe, pois é triste e frio sem o calor humano que tinhamos sempre em familia. Obrigado pelo reconhecimento de ter ficado com uma pasta tao digna e importante, e sabes bem que a respeito contra tudo e contar todos.
    Beijos Miguel Doellinger.

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  2. Mais um belo texto escrito com o coração.
    Grande abraço,
    p.

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