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sexta-feira, 16 de março de 2018

Lupe Cotrim Garaude 3

Entre a flor e o tempo

Também de dor se morre pois é morte
o sentimento ausente. O ser feliz
é ser presente, sem que mais importe
esse profundo sulco e a cicatriz
que no corpo nos marca o sofrimento.
Assim é nossa vida, sempre o lance
de viver, mesmo em dor, e dos momentos
erguer templos, embora breve o alcance
em nós do tempo. E o que restar do ardor
com que se vive o amor enfim carrega
em rosa mais perfeita e em outro amor
sonhado da extensão de nossa entrega.
No impulso com que o espaço alcança o tempo
a vida se ergue além do sofrimento.

"Entre a Flor e o Tempo", Lupe Cotrim Garaude 

(Lupe Cotrim Garaude nasceu no dia 16 de Março de 1933. Morreu em 1970.)

quarta-feira, 16 de março de 2016

Lupe Cotrim Garaude

De pedra

- Eu sou de pedra, me dizias,
a defender tua distância.


E esquecias o musgo,
essa tua epiderme de ternura,
e o teu corpo de carinhos,
num horizonte de água e terra,
a te envolver na vida.


- Eu sou de pedra - insistias.
- Pesado. Denso. Inalterável.
De estofo eterno.
Apenas estou, não sofro;
se algum gesto me ferir,
eu sou duro;
quebrarei o gesto sem sentir.


E esquecias
que és pouso de borboletas,
alicerce de flores,
abraço de raízes,
vulnerável em tudo
do que em ti pertence
e minha mão possui, acaricia.


- Eu sou de pedra.
E esquecias, esquecias.


"Entre a Flor e o Tempo", Lupe Cotrim Garaude

(Lupe Cotrim Garaude nasceu no dia 16 de Março de 1933. Morreu em 1970.)