O sangue e a esperança
Corre corre o sangue nas veias
Rola rola o grão das areias
Só não corre só não rola a esperança
o negro órfão que só corre e cansa
Cansa do eito corre das correntes
Corre e cansa do bote das serpentes
Só não corre só não cansa de amar
O amor da Mãe-África no além-mar
Além-mar das águas e da alegria
Mar-além do axé nativo que procria
Aqui é o mar-aquém do desamor frio
Aquém-mar do ódio do destino sombrio
Sombrio corre o sangue derramado
No mar-aquém de tanta luta devotado
Mas o sangue continua rubro a ferver
Inspirado nos Orixá que nos faz crescer
Crescer na esperança do aquém e do além
Do continente e da pele de alguém
Lutar é crescer no além e no aquém
Afirmando a liberdade da raça amém
"Axés do Sangue e da Esperança: Orikis", Abdias Nascimento
(Abdias Nascimento nasceu no dia 14 de Março de 1914. Morreu em 2011.)
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quinta-feira, 14 de março de 2019
Abdias Nascimento 3
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quarta-feira, 14 de março de 2018
Abdias Nascimento 2
Evocação da rosa
Era uma vez uma rosa
que não era vegetal
nem rosa mineral
carecia até da cor de rosa
era uma gata formosa
negra amarela e brancosa
irrequietamente caprichosa
vestida de suave pêlo multicor
Bichana terrivelmente amorosa
dos laços dos seus encantos
nenhum gato jamais se livrou
pelos telhados miava dengosa
suspirava a noite inteira
seduzindo namoradeira
toda a gataria ao
luar da lua alcoviteira
Certo dia Rosa pariu
uma ninhada de gatinhos
de várias cores engraçadinhos
os mais lindos eram os pretinhos
mamavam de patinhas entrelaçadas
ronronando de olhos cerrados
boquinhas rosadas coladas
às rosadas tetas de Rosa
Num desses momentos
um gatão assassino
pêlo sujo debotado
miando feio saltou felino
matando gatinho por todo lado
A mãe valente e briosa
socorri de porrete na mão
ajudei a defesa de Rosa
esbordoando estridente
perseguindo o ladrão
ele fugiu espavorido
um gatinho levando nos dentes
outros sangravam na agonia
Rosa fuzilava os olhos dementes
miando plangente a dor que lhe doía
noites a fio seu gemer se ouvia
ó doce e carinhosa Rosa
era de cortar o coração
ver-te enlouquecida
recusar enfurecida
aquela felina traição
ir definhando entristecida
até a completa inanição
Rosa cheirosa e macia
que ao morrer no
meu jardim plantei
sob a terra desapareceu
aos cuidados da minha
pobre primavera de
uma gata demente e morta
a rosa-gata enternecida
em rosa-flor floresceu
foram ambas a
única rosa que
a infância me deu
"Axés do Sangue e da Esperança: Orikis", Abdias Nascimento
Era uma vez uma rosa
que não era vegetal
nem rosa mineral
carecia até da cor de rosa
era uma gata formosa
negra amarela e brancosa
irrequietamente caprichosa
vestida de suave pêlo multicor
Bichana terrivelmente amorosa
dos laços dos seus encantos
nenhum gato jamais se livrou
pelos telhados miava dengosa
suspirava a noite inteira
seduzindo namoradeira
toda a gataria ao
luar da lua alcoviteira
Certo dia Rosa pariu
uma ninhada de gatinhos
de várias cores engraçadinhos
os mais lindos eram os pretinhos
mamavam de patinhas entrelaçadas
ronronando de olhos cerrados
boquinhas rosadas coladas
às rosadas tetas de Rosa
Num desses momentos
um gatão assassino
pêlo sujo debotado
miando feio saltou felino
matando gatinho por todo lado
A mãe valente e briosa
socorri de porrete na mão
ajudei a defesa de Rosa
esbordoando estridente
perseguindo o ladrão
ele fugiu espavorido
um gatinho levando nos dentes
outros sangravam na agonia
Rosa fuzilava os olhos dementes
miando plangente a dor que lhe doía
noites a fio seu gemer se ouvia
ó doce e carinhosa Rosa
era de cortar o coração
ver-te enlouquecida
recusar enfurecida
aquela felina traição
ir definhando entristecida
até a completa inanição
Rosa cheirosa e macia
que ao morrer no
meu jardim plantei
sob a terra desapareceu
aos cuidados da minha
pobre primavera de
uma gata demente e morta
a rosa-gata enternecida
em rosa-flor floresceu
foram ambas a
única rosa que
a infância me deu
"Axés do Sangue e da Esperança: Orikis", Abdias Nascimento
(Abdias Nascimento nasceu no dia 14 de Março de 1914. Morreu em 2011.)
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terça-feira, 14 de março de 2017
Abdias Nascimento
Autobiografia
EITO que ressoa no meu sangue
sangue do meu bisavô pinga de tua foice
foice da tua violação
ainda corta o grito de minha avó
LEITO de sangue negro
emudecido no espanto
clamor de tragédia não esquecida
crime não punido nem perdoado
queimam minhas entranhas
PEITO pesado ao peso da madrugada de chumbo
orvalho de fel amargo
orvalhando os passos de minha mãe
na oferta compulsória do seu peito
PLEITO perdido
nos desvãos de um mundo estrangeiro
libra... escudo... dólar... mil-réis
Franca adormecida às serenatas de meu pai
sob cujo céu minha esperança teceu
minha adolescência feneceu
e minha revolta cresceu
CONCEITO amadurecido e assumido
emancipado coração ao vento
não é o mesmo crescer lento
que ascende das raízes
ao fruto violento
PRECONCEITO esmagado no feito
destruído no conceito
eito ardente desfeito
ao leite do amor perfeito
sem pleito
eleito ao peito
da teimosa esperança
em que me deito
Abdias Nascimento
(Abdias Nascimento nasceu no dia 14 de Março de 1914. Morreu em 2011.)
EITO que ressoa no meu sangue
sangue do meu bisavô pinga de tua foice
foice da tua violação
ainda corta o grito de minha avó
LEITO de sangue negro
emudecido no espanto
clamor de tragédia não esquecida
crime não punido nem perdoado
queimam minhas entranhas
PEITO pesado ao peso da madrugada de chumbo
orvalho de fel amargo
orvalhando os passos de minha mãe
na oferta compulsória do seu peito
PLEITO perdido
nos desvãos de um mundo estrangeiro
libra... escudo... dólar... mil-réis
Franca adormecida às serenatas de meu pai
sob cujo céu minha esperança teceu
minha adolescência feneceu
e minha revolta cresceu
CONCEITO amadurecido e assumido
emancipado coração ao vento
não é o mesmo crescer lento
que ascende das raízes
ao fruto violento
PRECONCEITO esmagado no feito
destruído no conceito
eito ardente desfeito
ao leite do amor perfeito
sem pleito
eleito ao peito
da teimosa esperança
em que me deito
Abdias Nascimento
(Abdias Nascimento nasceu no dia 14 de Março de 1914. Morreu em 2011.)
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