Foto Hernâni Von Doellinger
Jornalistas 1
Perguntaram-lhe:
- Profissão?
- Jornalista, do grupo dos vertebrados.
- Portanto...
- Desempregado.
Jornalistas 2
Perguntaram-lhe:
- Profissão?
- Jornalista.
- Imprensa, televisão, rádio, agência noticiosa ou multimédia?
- Câmara municipal.
Pedro Tadeu pergunta
O jornalista Pedro Tadeu pergunta no DN: "Um comunista não pode ser rico?". Podes, Pedro.
Escritor e tudo
Bonifácio
de Montalvar é autor impaciente e impulsivo. Publicou o seu primeiro
livro sem sequer o ter escrito, e revelou-se o sucesso que se vê: vai na
décima sétima edição e já ganhou quatro prémios literários - um,
internacional. Para além disso, é também pintor, performer,
crítico de cinema, prefaciador, antiquário, amigo n.º 1 de Manuel
António Pina, forcado amador, talhador de trasorelhos, apresentador de
telejornais e prepara-se para lançar o seu segundo disco de originais.
Era uma vez um jornalista cultural
Homem
de cultura, colaborador em jornais e televisões, nome com assinatura
reconhecida nos melhores suplementos de artes e letras, inclusive
blogues, Bonifácio de Montalvar foi ao cinema de reprise. Viu
"Guerra e Paz", de King Vidor, com Audrey Hepburn, Henry Fonda, Mel
Ferrer e o italiano Vittorio Gassman, mais uns tantos. Gostou do
enredo, ou da estória, como preferia dizescrever. E declarou no foyer
da despedida, alto e bom som, para que ficasse lavrado em acta: - Isto,
sim, dava um bom livro. Como é que ninguém se lembrou?...
Agustina, a jornalista
Hoje, que já ninguém fala de Agustina, falo eu. Agustina Bessa-Luís
ocupou o cargo de directora de O Primeiro de Janeiro entre 1986 e 1987.
Digo bem: ocupou o cargo. Fazendo o favor a Diogo Freitas do Amaral, a
quem o jornal da portuense Rua de Santa Catarina tinha sido dado pela
família Pinto de Azevedo. Agustina entrou e mandou logo mudar de sítio a
secretária do gabinete da direcção, para poder apanhar solzinho nas
perninhas. É a grande marca do seu consulado. De resto, era bonito de se
ver aquela mulherzinha de carrapito e xaile ou lenço pelas costas,
sentada quase invisível, debruçada sobre o mesão, com os pés a meio
caminho do soalho, manuscrevendo laboriosamente numa letrinha
encarreirada que era preciso saber.
Agustina escrevia para o jornal uns "editoriais" extraordinários, que
eram tudo menos editoriais. Eram pérolas literárias, histórias, contos,
ensaios, que viam a luz do dia no cantinho superior esquerdo, ou talvez
direito, da primeira página.
A directora não sabia nada do jornal e o jornal também não queria saber
dela. Um dia o chefe de redacção entrou-lhe no gabinete perguntando-lhe o
que fazer com uma notícia eventualmente mais melindrosa e que agitava
na mão. É, antigamente as notícias viajavam em folhas de papel. "Eu não
sei nada disso", enxotou a directora, "vá falar com o chefe de
redacção". E o chefe de redacção disse "Com certeza, senhora directora",
e foi falar consigo mesmo, modalidade, aliás, em que era e ainda é
campeão.
Agustina deixou O Primeiro de Janeiro depois dos pascácios da
administração lhe terem feito a sacanagem de publicar, sem lhe dar
cavaco, uma edição apócrifa do jornal, a pedido das bolachas Triunfo. A
escritora exigiu a demissão dos administradores, que se mantiveram nos
seus lugares, agarrados ao tacho como lapas. Saiu ela.
Sei disto tudo e outro tanto porque conheço muito bem o tipo que revia
os "editoriais" de Agustina no velho Janeiro e que, vítima do efeito
dominó provocado pela renúncia da directora, acabou por ter de tomar
conta da redacção. Conheço-o tão bem que é como se me visse ao espelho.
P.S. - Hoje, 2 de Novembro, é Dia Internacional de Protecção aos Jornalistas.
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