Serenata em Coimbra
Por vós e de um só nome eu te chamaria,
Não fosse a inclinação ao natural - infanta! -
E o pudor que também mais alto se alevanta
No meu vocabulário e na minha poesia.
Passaste com um cântaro à cabeça.
E eu - Mondego, Choupal, Camões, Rainha Santa -
Outro nome não sei que te valha e mereça.
Infanta? Pobre rapariga,
Havia sugestões clássicas pelo espaço
E eras infanta, sim, na paisagem antiga:
Parecias pisar o mármore de um paço.
(Era estranho que eu não ouvisse o burburinho
De fidalgos em ala a oferecer-te o braço.)
Entre escuros portais vejo-me a errar sozinho.
Vai alta a noite. Em que casa moras?
Na colina, uma luz entre tantas
(Não de castelos de rainhas e de infantas)
Será tua janela ainda acesa a estas horas.
Amanhã voltarás ao rio, lavadeira.
Dorme... Dentro da noite um refrão de modinha
Sobe da terra ao céu numa voz estrangeira:
Se Coimbra, se Coimbra fosse minha...
Ribeiro Couto
(Ribeiro Couto nasceu no dia 12 de Março de 1898. Morreu em 1963.)
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