De início, Alfredo pensou que a solução seria transformar-se num porco, convencido da impossibilidade de conviver com seus semelhantes, a se entredevorarem no ódio. Tentou apaziguá-los e voltaram-se contra ele. 
 Transformado em porco, perdeu o sossego. Levava o tempo fossando o chão lamacento. E ainda tinha que lutar com os companheiros, sem que, para isso, houvesse um motivo relevante.
 Imaginou, então, que fundir-se numa nuvem é que resolvia.  Resolvia o quê? Tinha que resolver algo. Foi nesse instante que lhe ocorreu transmudar-se no verbo resolver.
 E o porco se fez verbo. Um pequenino verbo, inconjugável.
 Entretanto, o verbo resolver é, obviamente, a solução dos problemas, o remédio dos males. Nessa condição, não teve descanso, resolvendo assuntos, deixando de solucionar a maioria deles. Mas, quando lhe pediram que desse um jeito em mais uma briga familiar, recusou-se
- Isso é que não!
 E transformou-se em dromedário, esperando que beber água o resto da vida seria um ofício menos extenuante.
"Alfredo", Murilo Rubião
(Murilo Rubião nasceu no dia 1 de Junho de 1916. Morreu em 1991.) 
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