terça-feira, 13 de outubro de 2020

Soltem as prisioneiras!

Crónica feminina
Vieram as calças, e ela nada. Os movimentos libertários, o divórcio, o voto, a canasta, os empregos, os carros, os cigarros, as gravatas, os sapatos de salto baixo e os sapatões também vieram, e ela nada. Em casa, sempre em casa, de uma virgindade absoluta em relação ao amantíssimo esposo e demais, bordava, falava francês e tocava piano. E dava alpista ao canário. E regava os vasinhos, ela própria um flor de estufa. Muito cor-de-rosa, muita renda na roupa interior que só ela sabia, muito tafetá, muitos lacinhos e sabonetinhos. Queimou uma vez um sutiã, é verdade, mas foi sem querer, passando a ferro, quando a serviçal lhe faltou. Tirando isso, nada. Parecia doença. Crónica. As vizinhas, que nem lhe conheciam o nome, chamavam-lhe, por graça, Crónica Feminina.

As mamas eram como a casa, de papel
As Turicas eram irmãs em Fafe. Costuravam. Pequeninas e idosas, resmungonas e prendadas para os mais delicados lavores, faziam renda de bilros sentadas num banquinho junto às enormes portadas que davam para a rua. Tinham uma loja mais antiga do que elas e que cheirava a um mofo muito bom. Vendiam botões e tafetás, fitas de nastro, fechos, linhas, lãs, chitas, agulhas e flanelas. Vendiam também vinho ao garrafão nas traseiras do estabelecimento. As boas senhoras tinham uma "criadita" que abria a porta a quem ia comprar vinho. E a miúda tinha umas mamas. A minha mãe mandou-me ao vinho e eu pedi à rapariga se me deixava apalpar-lhe as mamas. Ela não deixou e eu apalpei. As mamas eram de papel e foi-me um desgosto muito grande.

É de homem
Homem que é homem gosta de mamas grandes. Mas tem medo do bisturi e os implantes, posto que perigosos, estão pela hora da morte! 

É de homem 2
Homem que é homem faz peito. E depois dá de mamar.

É de homem 3
Homem que é homem não chora. Mas mama.

Como uma passarinha
Estacou perante a fartura daqueles seios. Era mais um palmo em falso e ainda se esparramava naquela fofa imensidão livre, livre como uma passarinha, porque as passarinhas também não usam sutiã. A ele até os olhinhos se lhe riam...
A dona dos seios desobrigados é que não gostou. E atirou, azeda:
- Olhe lá, ó patego, está a gozar com as minhas mamas?
- De momento ainda não, minha senhora...   

O peito às balas
Um dia resolveu dar o peito às balas. Que descanse em paz.  

Três versos, um poema
Seios
sei-os
ceio-os

Já um homem não pode ser feminista
Feminista convicto, apresentou-se todo pimpão à porta do congresso, distribuindo babosos sorrisos à direita e à esquerda, para a frente e para trás. As porteiras barraram-lhe o caminho, matulonas. Que era só para mulheres, disseram-lhe...

Amor à camisola
Marcou golo. Golaço! Correu aos pulos pelo relvado, bateu no peito como tarzan, abraçou-se à camisola suada, beijou-a com acrisolada paixão, ergueu-a como quem levanta a saia, puxou-a mais para si, no limite do amarelo, e... assoou-se-lhe abundantemente.
Outra coisa. Já repararam? Os jogadores de futebol agora usam sutiã, e dá-lhes, com efeito, um certo ar.

Realmente sou um bocado lésbico
Confesso que sou um bocado lésbico. Sou lésbico naquela parte que diz respeito a gostar de mulheres. Por isso não compreendo as lésbicas que gostam de mulheres que fazem tudo para parecerem homens...
 
Eram brancos como a neve e eu gostei tanto!
Lembro-me muito bem, de uma vez: houve uma espera, pancadaria da velha entre mulher legítima e a outra, na disputa por um lingrinhas que se ria como um perdido e era feio como um calhau. Parecia as festas da vila, eram girândolas de sapatos, brincos e cabelos pelo ar, orelhas esgaçadas, saias arregaçadas, blusas esventradas, recíprocas recomendações de higiene íntima guinchadas (parecia nos altifalantes do Baptista) com indicações precisas sobre os locais do corpo que careceriam de arejo, mais arranhões e bofetadas, encontrões e apalpões, tropeções e tudo ao molho, tudo a aproveitar, tudo a aplaudir.
Foi mesmo assim, palavra de honra. A amásia deu parte de fraca e deixou-se ficar no chão. Espumava por todos os lados. O rosto passava-lhe do vermelho ao verde, que até parecia um semáforo. Nós em Fafe ainda não sabíamos o que era um semáforo, mas era aquilo. A ofendida batia no ar e falava ao mesmo tempo - "A badalhoca enche-o de gemadas para ele não lhe sair de cima". Perante o argumento, à outra deu-lhe o fanico, cheia de vergonha e ranho.
Acorreu o senhor Zé Manco, que tinha um tasco-mercearia, A Primorosa, e muito jeito para dar injecções. Para além disso, o molageiro gostava também de pôr a mãozinha no sopeirame local. "É afastar, faz favor, é dar espaço, para ela respirar", dizia o senhor Zé Manco nos seus domínios, abrindo de vez a blusa da amantizada, baixando-lhe um quase nada o sutiã e expondo um quase tudo de uns seios brancos como a neve, coisa linda de se ver. Depois, uma caneca de água fresca cabeça abaixo da desmaiada, "para a mulher espertar". E a mulher espertou.
E eu fiquei ali a gostar ainda mais da palavra amantes...

Ladies first?
Ele disse, força do hábito, "As senhoras primeiro". Ui!, caíram-lhe todos em cima, feministas e machistas, derivado àquilo da igualdade de género...

Ó mor, mor!
- Ó mor, mor! Tu mamas, mor?
- Ó mor, claro que tamo, mor.
- Diz-me a verdade, mor. Tu mamas, mor?
- Tamo, mor. Tamo tipo bué, tás a ver, mor?
- Não, mor, tipo a sério, mor, tu mamas-me tipo... a sério, mor?
- Tamo-te, mor. Tamo-te tipo, mor.
- Mamas-me mesmo, mor?
- Tipo agora, mor? Tipo aqui, mor?...
 
P.S. - Hoje, 13 de Outubro, é Dia Internacional Sem Sutiã.   

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