terça-feira, 12 de junho de 2018

Microcontos & outras miudezas 89

Em primeira mão
Corno de África apresenta queixa contra incertos por difamação.

Carteira profissional
Chamado à pedra, protestou: - Eu sou carpinteiro, e vou fazer queixa ao sindicato...

O velho contador de anedotas
Levava um banquinho e sentava-se em Cima da Arcada, de guarda-sol, se fosse o caso, e um caderninho de folhas quadriculadas, sempre. Espertava os olhos cansados, via sair, e tomava nota. Saíam do Mário da Louça, do Damião Monteiro, do Café Império, do Talho, da Caixa, do Martins da Avenida, do Rabeca, da Câmara, do Casinhas, da Senhora Eufémia, do Américo das Bicicletas, do Alfredo Sapateiro, das Lobas, da Loja Nova, da Casa da Cera, dos Armazéns Cunha, do Banco. Saíam, e ele registava, mão trémula porém infalível. Analfabeto de nascença, utilizava a técnica do Miguel Cantoneiro, ecumenicamente adaptada: uma cruzinha para os como ele, uma cruz para os menos mal e um cruzeiro para os cagões locais. À noite, em casa, depois da sopa e antes do terço, fazia a soma, por escalões, comparava com os dias anteriores, as contas todas certinhas, noves fora nada, e arquivava no saco de serapilheira debaixo da cama. Era um excelente contador de anedotas.

À mesa
Isto devia ser ensinado desde os bancos da escola: o telemóvel não faz parte do talher. O talher é composto pelo conjunto de garfo, colher e faca e comando de televisão. Mais nada.

Algo de tranquilizante
Havia algo de tranquilizante no que ele dizia. Ele dizia: - Valium...

La vida de papel
Fez um barco e lançou-se ao mar. Morreu afogado. O barco era de papel e o mar não.

Do monólogo ao solilóquio
Tomou a palavra logo a seguir a si próprio, desvanecido com tanto rasgo. Falou, falou, falou, até perder a voz. Sentou-se e aplaudiu-se entusiasticamente.

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