quinta-feira, 14 de julho de 2016

Kafka à beira-mar

Entro no metro. Viagem curta, de Matosinhos Sul até à Senhora da Hora, um quarto de hora mais ou menos, antes de mudar de linha para o que tinha a fazer em Vila do Conde. Sento-me num daqueles bancos frente com frente, éramos quatro, dois de cada lado e, se fosse futebol, a bola era redonda. Ninguém conhecia ninguém. Os dois rapazes e a rapariga, os três mais para os trinta do que para os vinte, cabeças para baixo e graves, rapam dos bolsos os respectivos telemóveis como se se conhecessem de outras encarnações e estivessem combinados, e jogam, ela, e mensajam, eles, automaticamente, ignorantes uns dos outros, numa simbiose perfeita de caras de repente desaparecidas em combate. Só lhes vejo os cocurutos. Eu vou à mochila e tiro o livro. "Kafka à Beira-Mar", de Haruki Murakami. Pensei: é o que diz a minha mãe - sempre a destoar, eu.

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