sábado, 29 de outubro de 2011

Intelectualismo bacoco

Conheci Orlando Pompeu, ali para os lados do Café Império, por altura dos meus 17 ou 18 anos, e nem me passava pela cabeça que ele viria a ser pintor. Pela dele também não. Não sei se pode ser, mas tenho ideia de que o meu primeiro contacto com a sua pintura foi também num café, o H7, e confesso que fiquei impressionado (ou será que devo dizer hiper-realizado?). A inteligenzzia local considera-o hoje em dia "o mais conceituado e famoso artista plástico fafense" ou, versão sintética, "o artista mais consagrado do concelho", consoante a fonte. Não sei se é. Para além de ter muitos cafés, Fafe é terra de outros exageros. Não duvido, porém, que Pompeu seja um dos principais embaixadores da cultura fafense, se tal existe, em Portugal e por esse mundo fora.
Lembro-me dos retratos do Orlando Pompeu. Aquilo é que era força. Não sei se foi por aí que ele começou, mas eu gostava muito, quer-se dizer: daquele gostar leigo, descomprometido. No mundo dos entendidos, todavia, desagradava a uns quantos a dose de realismo que esses trabalhos carregavam, mas eu quero é que os "entendidos" vão à merda. O artista, como bom artista que se preze, passou depois para a fase não sei quê, e eu perdi-me da pintura dele. Até anteontem.
Anteontem, o blogue Olhares, do Núcleo de Artes e Letras de Fafe, deu-me notícia da exposição do Orlando Pompeu em Albufeira. Inaugurou ontem e vai até ao próximo dia 25 de Novembro. A exposição chama-se Manifestos Conceptuais e eu desatei a rir. Suspeitei de imediato que Pompeu continua na famosa fase não sei quê e fui à procura dos títulos de anteriores mostras. Gastei meia dúzia de minutos e dei-me por satisfeito com esta colheita: Uni-Versos Conceptuais, Pré-Textos Conceptuais, Pré-Textos Gestuais, Con-Textos Conceptuais. Realmente, o artista faz render a fase não sei quê.
Estes títulos estão cheios de... nada. Não dizem nada. Não querem dizer nada. Que treta, Pompeu, que treta! Parecem títulos inventados de propósito para gozarem comigo, que não sei de pintura, que não sei de quase tudo, mas sei de títulos e gosto de me rir. Estes títulos são um desajeitado exercício de intelectualismo bacoco, são trocadilhismo no vácuo. Vejam bem: é como se eu titulasse os sarrabiscos deste texto como "Uni-Pré-Verso(Manifesto) Gestual/Conceptual-Semântico Metafísico/Invectivo, Astronómico ou Vice-Versa". Mas não liguem ao que eu digo. Vão lá, à exposição algarvia. É na Galeria Municipal de Albufeira, aberta de segunda a sábado, das 10h30 às 16h30. Vão lá! De certeza que a pintura exposta não tem culpa dos nomes que lhe chamam.

A Última Ceia, As Meninas, Doze Girassóis Numa Jarra, Guernica, Les Demoiselles d'Avignon, Mona Lisa, O Beijo, O Casal Arnolfini, O Grito, Rosa e Azul. Quem terão sido os palermas que pintaram quadros com nomes assim tão foleiros?

5 comentários:

  1. Cá para mim isso tem uma explicação Pré-psico-nomenclática! Até eu, que tenho várias cátedras em orlandos, fico espantado com a combinação "Orlando Pompeu"! Portanto, quanto a títulos fico-me por este.

    j.

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  2. Obrigado, caro j., pela visita e pelo comentário. Volte sempre!

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  3. São assim as figuras ilustres de Fafe! Bem hajam os textos dos quartilhos e do que a nosa terra de facto é! Abraço Miguel

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  4. O sr. Pompeu já deu!. Vive destas coisas porque é mais esperto do que todos nós!...Governa a vidinha e, em tempos recentes, foi espalhando os seus "conceptualismos" por casa de novos ricos, especialmente de gente da indústria mais habituada aos Ferraris mas sensível a estas terminologias artísticas...apenas para parecer bem!...Agora, em Albufeira, estância onde proliferam camionistas ingleses, em gozo de férias, vai procurando novo mercado, contrapondo a sua arte conceptual à quantidade abismal de cervejas que esse requintado turista ingere.

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