segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Uma câmara para Mourinho

José Mourinho diz que há uma campanha contra ele em Espanha. Eu não costumo ligar ao que Mourinho diz, porque ele nunca diz nada sem uma segunda intenção, não dá ponto sem nó, e eu tenho mais que fazer do que perder tempo a tentar perceber aonde é que ele quer chegar. Mas abro aqui uma excepção, porque me parece que, desta vez, o homem é capaz de ter razão.
Ontem, durante a transmissão do jogo Saragoça-Real Madrid (0-6), o treinador luso teve direito a uma câmara, em exclusivo, que lhe seguiu todos os movimentos no banco de suplentes. Uma distinção digna do imenso umbiguismo de El Especial, mas que trazia água no bico. Depois do turbulento episódio final do último Barcelona-Real Madrid, o que a realização espanhola procurava era apanhar Mourinho novamente em falso. O português estava sob vigilância.
Numa transmissão paralela à transmissão do próprio jogo (três golos de Cristiano Ronaldo), todos os gestos mais bruscos de Mourinho, os gritos, as caras feias, os protestos, os enfados, os desapontamentos, foram passados a pente fino e repassados em câmara lenta, para que Espanha e o mundo se convençam de uma vez que realmente está ali um homem mau. Sim, Mourinho é capaz de ter razão. Às tantas, eles estão a ver se o tramam. Se calhar há mesmo uma campanha contra ele em Espanha. No entanto,

convém não esquecer que José Mourinho é mestre na arte de criar cenários para rupturas. Foi assim em Portugal, foi assim em Inglaterra, foi assim em Itália. Atentemos primeiro no seu "desabafo" de ontem ao jornal espanhol El Mundo. Diz Mourinho: "Ao contrário de outros países onde treinei, aqui sinto que estão a fazer uma campanha contra mim. Um amigo chegou a dizer-me que, com as pedras que me lançam, conseguia construir um monumento".
Um monumento a Mourinho, claro. Um Mourinho com queda para retocar a história. Porque, se formos um pouco atrás, ao tempo em que ele era Il Speciale e treinava o Inter, vamos encontrá-lo, em Novembro de 2008, a dar azo ao seguinte título na imprensa italiana: "A Itália não gosta de mim". Ou, em Março de 2010, já a preparar o salto para Madrid e a afirmar: "Não gosto do futebol italiano e o futebol italiano não gosta de mim".
Pois é. Ele sabe-a mesmo toda!

4 comentários:

  1. Inglaterra, aí vou eu de novo!
    Abraço,
    P.

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  2. Bruxo! Ele está a preparar o terreno, depois é uma questão de timing. Mas sai de Madrid antes do fim do contrato.

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  3. Como se pode usar o M.Soares e a Manuela F.L. como referências e, ao mesmo tempo, chamar espertinho a um grande palhacito de uma grande palhaçada chamada futebol?
    M.A.

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  4. E se não for ao mesmo tempo, pode? É que não foi ao mesmo tempo...

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