terça-feira, 9 de agosto de 2011

Joana viu a luz. E apagou-a.

Joana Barata Lopes, a deputada, tinha um sonho, mas andava a dormir muito mal. O seu sonho era brilhar, botar figura e, sobretudo, merecer a graça de uma revelação divina que lhe ensinasse num piscar de olhos como chegar lá. Porque ela era manifesta e conscientemente ignorante. Até parecia castigo de Deus Nosso Senhor, mas a verdade é que exactamente desde que lhe arranjaram o emprego no Parlamento que a jovem ex-frequentadora da licenciatura em Direito o melhor que conseguia, à noite, era ter pesadelos. Muitos. Tantos, que uma vez, já que estava acordada e estava, resolveu contá-los a ver se adormecia: e foram 112!
A nova estrela parlamentar do PSD nem assim adormeceu, mas aproveitou para ver ali um sinal. E na manhã seguinte, na Assembleia da República, correu a pegar no telefone e a fazer a cagada que se sabe, com os resultados que se viram, o que quase a levou a apostatar. Ao que consta, Joana só não apostatou porque não conhecia a palavra.
E voltou aos pesadelos, aqueles de bate e foge, como decerto todos já experimentámos no incómodo de um estado febril. E era assim que Joana Barata Lopes estava, parecia uma doença. Vinha-lhe à cabeça a palavra "metro", que depois explodia em mil pedaços para se transformar na palavra "litro", que repentinamente se evaporava do cansado pensamento, dando lugar à palavra "quilo". E voltava tudo ao princípio. E uma voz, parecia uma voz, a martelar-lhe no interior do cérebro, parecia um cérebro: - E um metro tem mesmo cem centímetros? E um litro tem sempre dois quartilhos? E um quilo só vem em pacote? Tens a certeza, Joana? Já tiraste isso a limpo? Mostra a esses gajos...
Agora, sim, era mesmo Deus a falar, não havia dúvidas. O quê?, aquilo dos "gajos"? Acham que Deus nunca usaria a palavra "gajos" ? É Deus em aggiornamento, podem crer. Joana via finalmente a luz. Apagou-a, aconchegou-se à almofada e adormeceu como uma anja.
Na manhã seguinte, na Assembleia, a deputada do 112 criou, sozinha, a comissão parlamentar de pesos e medidas e nomeou-se a si própria aferidora-mor da República Portuguesa. E pôs os pés a caminho por esse Portugal profundo adentro, porque, infelizmente, como ela costuma dizer, se queremos uma coisa bem feita, temos que ser nós a fazê-la.
Se um destes dias virem por aí, numa loja de fazendas de Cabeceiras de Basto ou de São Brás de Alportel, uma jovem toda contente a contar os centímetros ao metro, não há nada que enganar, podem pedir-lhe um autógrafo. É mesmo ela: a nossa Joana Barata Lopes.

2 comentários:

  1. Ah grande Joaninha. Fizeste o Neques esquecer-se da Assunção Cristas!
    Abraço,
    P.

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  2. É verdade, caro P.
    E, de momento, dou o assunto por encerrado. A não ser que ela, a Joaninha, volte à ribalta.

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