quarta-feira, 31 de março de 2021
Fundo do desemprego
De vaquinha para o desemprego
As viagens de casa para o desemprego e do desemprego para casa custavam-lhes os olhos da cara. Organizaram-se. Agora vão de vaquinha. Para e do desemprego.
Pura Vázquez 7
Bisbarra desta dor
Quixen coller do vento o salgadío pulo
da flor brillante i-o arelar que fire.
O noitébrego xeo das derrotas.
Os saregos do saibo dos meus beixos,
e a beleza das praias relembradas.
Voráxes do meu tempo e luces nídias
voltarían cal dornas fuxitivas
de ribeiras que alongan ó infinito.
Detrás dun mar lonxíncuo de soidades
ateime contra o gris agraz de nube
coa opulencia marela das mimosas,
os abrochos e os érvedos. O luxo
primaveral de herbiñas e camelias.
vou na bisbarra desta dor chegando
ata un destempo alto e repetido
nas longas estacións que tece o invemo.
"A Música dos Tempos", Pura Vázquez
(Pura Vázquez nasceu no dia 31 de Março de 1918. Morreu em 2006.)
Fermín Bouza Brey 7
Refenda das sete naos
ben ouviredes contar...
Elas eran sete naos
todas de engebre cristal
- sete bágoas orfas de ollos
que as quixeran derramar -,
que c-un paxaro prisado
por un mar témero van
- cada paxaro unha trova
virge de beizo mortal -.
Non teñen ren de aparello,
nin foz onde aparellar.
Levan por treu âs estrelas,
Deus do Ceu por capitán.
Á unha chaman Pensamento,
â outra chaman Libertá.
Os nomes que as outras portan
son de outo paraio real...
Pol-a costa verdegada
que dín de Jacobusland,
no intre da media noite
anda a serea á cantar.
As cántigas que ela deita
na vida ouviredes tal!
Âs aves que van prisadas
dalles moita señardá.
Deus do Ceu aloumiñado
ben as quijera ceibar
e as sete naos pulidas
todas de engebre cristal,
escáchanse nos brandidos
penedos da beiramar.
Os sete paxaros ceibes
â nacenza da mañán,
pol-as grañas infinidas
ben os veredes voar.
No bico locen saudades
da boa Jacobusland;
seu brasón no firmamento
as sete queren formar
que seja voz no silenzo,
lumieira na escuridá
para a terra da lanzalía
entre as terras a lanzal.
Pousaron no setestrelo
eternamente á cantar!
"Nao Senlleira", Fermín Bouza Brey
(Fermín Bouza Brey nasceu no dia 31 de Março de 1901. Morreu em 1973.)
terça-feira, 30 de março de 2021
Contra a discriminação do mercurocromo
O intolerante
Era realmente uma pessoa com um feitio difícil. Tinha um problema com o álcool. E outro com o betadine.
Lucila Nogueira 5
Querem que eu seja fria e invulnerável
mas eu persisto a boba da tragédia
o sangue a explosão o peito aberto
e no jogo da vida a mais perplexa
chamam de experiência essa dureza
que enfeia o rosto e os gestos envelhece
eu vivo desarmada e de surpresa
nascendo a cada instante mais liberta
"Peito Aberto", Lucila Nogueira
(Lucila Nogueira nasceu no dia 30 de Março de 1950. Morreu em 2016.)
segunda-feira, 29 de março de 2021
Reservado o direito de admissão
Foi má ideia aquele letreiro à porta do consultório - "Proibida a entrada de animais". Era um veterinário...
P.S. - A Escola de Medicina Veterinária foi criada no dia 29 de Março de 1830.
O amigo dos animais
É veterinário porque gosta muito de animais. Coelhos, perdizes, tordos, javalis e sobretudo toiros. E só lamenta que em Portugal não sejam de morte.
Macaquinhos no sótão
Tinha macaquinhos no sótão. Denunciado pela vizinha, foi detido e preso. Os animais, após vistoria veterinária, seguiram para o jardim zoológico.
Os bois chamam-se pelos nomes
Assim se chamam os bois pelos nomes.
Pastelaria e graças a Deus
Luís Antônio Pimentel 5
tirou todos os espinhos
do balcão florido.
Luís Antônio Pimentel
(Luís Antônio Pimentel nasceu no dia 29 de Março de 1912. Morreu em 2015.)
domingo, 28 de março de 2021
Centros históricos
Os centros históricos são como os chapéus: há muitos. Ljubinko Drulovic que o diga e Mário Jardel que agradeça. Mas calcanhar de Madjer só houve um. O resto são imitações.
P.S. - Hoje, 28 de Março, é Dia Nacional dos Centros Históricos.
Armando Silva Carvalho 5
O amor nas escadas do metro
De quem é o braço?
E os cabelos sujos, roídos pela caspa
e falta de água?
E a perna que enlanguesce sob o tecido ruço
que não retém memória?
Meu deus, dirão os velhos ao descer com vagares
as escadas do metro, a mocidade agora
é sexo só e sujo a rolar pelo chão.
Mas quem deita o olhar com mais ternura
e calma
sobre o novelo dos dois
descobre no ar em volta a tessitura tensa
do desejo, um halo amarrotado pela fugaz curvatura
do sonho.
E na lama pérfida que se sobrepõe aos beijos
a parábola fiel às gerações
da terra.
Forçoso será então que caia a chuva,
e cubra a carne sôfrega
exposta à multidão.
Os solitários amaldiçoam toda a inocência
exibida em degraus, caída de bocas tão imundas,
tão perto do inferno
e do êxtase.
O amor pode ser também dalguns que passam
de olhos feridos,
o coração apertado de sangue
e breve compaixão.
Mas só os dois, ali, enleados na energia da alma,
são um palco da alegria do mundo,
gratuito,
à distância da morte e da sua serpente
circular.
São jovens, e estão a soletrar
tão mansos, o horror apreendido pelas bocas
que despontam,
como a planta se eleva do chão endurecido,
como o animal à luz no limiar do medo.
Os dois, ali, expectantes, transparentes, nus,
na natureza de sempre.
(Armando Silva Carvalho nasceu no dia 28 de Março de 1938. Morreu em 2017.)
sábado, 27 de março de 2021
As pancadas de Jean-Baptiste Poquelin
O francês Jean-Baptiste Poquelin inventou as famosas pancadas de Jean-Baptiste Poquelin, as quais, secas e consecutivas, batidas no piso do palco, anunciavam ao público o início de um espectáculo teatral. Alguém alvitrou, no entanto, que chamar pancadas de Jean-Baptiste Poquelin às pancadas de Jean-Baptiste Poquelin não tinha jeito nenhum, até soava mal ao ouvido, e que chamar-lhes, por exemplo, pancadas de Molière seria muito mais engraçado. Tinha razão o perspicaz alvitrador. As pancadas mudaram então o nome para Molière e Jean-Baptiste Poquelin também. Assim se passaram as coisas.
P.S. - Hoje, 27 de Março, é Dia Mundial do Teatro. No Brasil é também Dia do Circo.
sexta-feira, 26 de março de 2021
O livro
Os livros
Livraria
Transpôs a porta sagrada, procurou instintivamente à direita a piazinha de água-benta que não encontrou, genuflexou e benzeu-se num silêncio e num respeito que só vistos, caminhou lentamente até à estante, no mais profundo recolhimento, pegou no livro como quem pega em asa de borboleta ferida, afagou-o, ao livro, abriu-o como que a medo, em ângulo recto não mais, folheou-o sem destino mas com mil cuidados, contemplativo, num deleite adivinhatório de santidade gozosa. Tinha acabado de entrar numa livraria.
Kafka à beira-mar
Entro no metro. Viagem curta, de Matosinhos Sul até à Senhora da Hora, apenas quinze minutos e mudança de linha para Vila do Conde. Sento-me num daqueles bancos frente com frente, éramos quatro, dois de cada lado e, se fosse futebol, a bola seria redonda. Ninguém conhecia ninguém. Os dois rapazes e a rapariga, os três mais para os trinta do que para os vinte, cabeças para baixo e graves, rapam dos bolsos os respectivos telemóveis como se se conhecessem de outras encarnações e estivessem combinados, e jogam, ela, e mensajam, eles, automaticamente, ignorantes uns dos outros, numa simbiose perfeita. Eu vou à mochila e tiro o livro. "Kafka à Beira-Mar", de Haruki Murakami. Pensei: é o que diz a minha mãe - sempre a destoar, eu.
A minha cara
Ofereceram-me um livro. "É a tua cara", disseram-me. O livro resumia-se a uma fotografia. E era realmente a minha cara.
Há palavras que nos beijam como se tivessem boca
Mais valia estar calado
Queixei-me. Do meu irmão. Que me ofereceu um livro com oitocentas e noventa e cinco páginas. E escrevi: "É a prova que faltava. Aquele gajo não me grama..."
Foi
pelos meus anos. Agora pelo Natal o meu irmão ofereceu-me, do mesmo
autor, um livro com 362 páginas. Francamente, senti-me desconsiderado. É
um bocadinho como - e a literatura que me perdoe - passar de cavalo
para burro. Eu estava à espera de um livro com pelo menos duas mil
setecentas e trinta e oito páginas e sai-me isto. Esta como hei-de
dizer, este digamos assim, este... opúsculo!
Realmente. Aquele gajo não me grama...
Escritor e tudo
És cá dos meus
O homem caminhava vagarosamente ao lado da mulher. Curvado pelo peso de,
fiz as contas, setenta e tantos anos bem medidos, caminhava ainda assim
com uma dignidade evidente. O homem velho, de casaco e digno, pé ante
pé até ao café de praia e ao milagre do sol-pôr, levava as mãos atrás
das costas. E nas mãos, reparei, um livrinho da Colecção Vampiro, a antiga: "O
Imenso Adeus", de Raymond Chandler.
Caramba!, és cá dos meus - pensei. E apeteceu-me dar-lhe um abraço...
quinta-feira, 25 de março de 2021
Trofafafe, trofafafe, trofafafe...
Depois a automotora começou a madrugar só para mim, para me trazer ao namoro ao Porto e tornar-me a casa à noite, Fafe desistiu do comboio e queixou-se muito quando lho "tiraram".
Hoje o fim do mundo é em Guimarães. É lá que está o muro. Para além dali, nada. É um fim do mundo indoor, asmático e com luzinhas de discoteca, uma boa merda à beira do nosso fim do mundo antigo, que era outra categoria - ao ar livre, com couves, tomates, cheiro a alfádega e só saúde. Ainda por cima, o nosso fim do mundo era feminino: dizia-se em Fafe, não sei explicar porquê, "a" fim do mundo.
O mundo está, portanto, mais pequeno. Isto é científico. Mingou 14 quilómetros. Este aperto mundial, de mais a mais num tempo em que os bons vão caindo como tordos, daria jeito para que nos aconchegássemos um bocadinho, trocássemos olás de boca, para que nos abraçássemos se fosse o caso, e no entanto apartamo-nos cada vez mais uns dos outros, de cabeças enfiadas em caixinhas de cores com teclas ou figurinhas de arrastar com os dedos. E agora é a pandemia a afastar-nos. Parece que estamos oficialmente proibidos uns dos outros.
Ia-me esquecendo: a outra conclusão a tirar, e igualmente científica, é que Fafe já não é deste mundo.
Coitados dos comboios
Quando me dizem que a greve na CP "vai perturbar comboios" eu acho mal e, palavra de honra, fico com pena. Dos comboios.
O bom ladrão
Fafe, algures pelos finais da década de sessenta do século passado. Na
sala de aula da agora desaparecida Escola da Feira Velha, no meio da
parede, por cima do quadro negro, um Cristo crucificado. Carmona à
direita da cruz, Salazar ironicamente à esquerda. Eu, que naquela altura já tinha
umas luzes bíblicas, nunca percebi qual destes dois era o bom ladrão...
P.S. - Publicado originalmente no dia 26 de Julho de 2018. No dia 25 de Março de 1928 o general Óscar Carmona foi eleito presidente da
República. Era candidato único. A oposição estava proibida. Curiosamente, o dia 25 de Março é dedicado pela Igreja Católica a São Dimas, o bom
ladrão.
quarta-feira, 24 de março de 2021
Super Pop Limão Reserva 2017
Era um escanção com um paladar e um olfacto apuradíssimos, premiados. Até adivinhava o detergente de lavar os copos...
P.S. - Hoje, 24 de Março, é Dia do Escanção.
A fome e a vontade de comer
- Está fresca? Trouxe directo do frigorífico?
E eu fui franco:
- Não. Fiz há pouco, ainda está quentinha.
- É pena.
Com gestos elegantes, competentes, o técnico pegou no boião e verteu o seu conteúdo num balão de pé alto, com o cuidado milimétrico de deixar o copo um pouco abaixo de meio cheio. E disse, ainda sem me pôr os olhos:
- Espere aí um bocadinho, que já leva os resultados.
E eu esperei, todo contente com a novidade. O Serviço Nacional de Saúde vai de vento em popa.
Delicadamente, o técnico pegou no copo pela base, afastando-o de si com todo o respeito, e começou a girá-lo vagarosamente, olhando a bom olhar o seu conteúdo, no contraste com a parede branca. E tomou notas. Colocou o copo sobre a mesa e rodou-o em pequenos círculos, primeiro devagar, depois acelerando, para finalmente o levar ao nariz, uma vez, duas vezes. Inalou, compenetradíssimo, e tomou notas. Sorveu uma pequena quantidade de líquido, mantendo-o na boca sem engolir, apreciou-o por momentos com todo o profissionalismo e finalmente cuspiu-o. E compilou as notas:
- Muito bem. Ora, portanto, cor amarela palha, aspecto límpido, reacção a 6,0 e densidade a 1,013. Proteínas, glicose, corpos cetónicos, pigmentos biliares, nitritos e sangue não detectáveis. Urobilinogénio a 0,2 e atenção a esses leucócitos. Estão de 10 a 25, vá ver isso. Células epiteliais e eritrócitos, 0 a 2...
E eu, à rasca:
- Está no gozo, não está?
- Não. É a sério! - respondeu-me o técnico, fitando-me enfim olhos nos olhos e passando a explicar:
- Então você não me conhece? Nunca me viu na televisão? Eu sou, quero dizer, eu era provador de vinhos, escanção famoso, abençoado por um paladar indiscutivelmente gourmet, milimétrico, definitivo. Era dono de uma considerável cadeia de restaurantes e garrafeiras de alto lá, mas quê, veio a crise. A crise antes da epidemia. A crise da fartura, digo melhor: Portugal hoje em dia divide-se em duas partes, os chefes de cozinha e os fadistas, e tanto uns quanto os outros são mais que as mães. Eu, que, não é para me gabar, até me desunhava razoavelmente na fadistice, meti-me nos comes e bebes, mas fiz mal. Com tanta gente no ramo, acabei por cair, como o Newton avisara. É muito cão ao mesmo osso. Que remédio, abandonei a cozinha, despedi-me e fui para longe. Resolvi falir em grande estilo e pus anúncio no jornal. Arranjei emprego aqui no laboratório do hospital a fazer de conta das minhas antigas competências. Quer saber? Os aparelhos de análises à urina estão avariados e inactivos há mais de meio ano, não há dinheiro para camas quanto mais para os mandar arranjar, e, olhe, não me posso queixar, juntou-se a fome com a vontade de comer.
- Ó valha-me Deus, também analisa fezes? Isto é: para além de provador de mijo, também come merda?...
Gonzalo López Abente 7
Dentro do seu corazón
Vina chegar nun abrente,
envolveita na alborada
e de roibéns coroada
a neve da súa frente;
no fulgor tremelucente
dun colar de pedraría
o milagre relucía
da belida face, como
cando Deus abriu o gromo
de lus do primeiro día.
Vina chegar no tesouro
mergullada da fervenza
que o seu cabelo destrenza
nunha fumarada de ouro;
presa nun ensoño louro
xermolando na paixón
e a cabalgar na ilusión
voadora dun salaio,
tiña máis gromos que maio
dentro do seu corazón.
Vina cruzar pola vía
frorida da mocedade,
vestida coa maxestade
escentilante do día;
o seu ollar refulxía
no zénit; con emozón
desfóllase unha canzón
e ao compás dos seus rumores
abalan logradas frores
dentro do seu corazón.
Vina ir pola vereda
melancónica da tarde;
na súa cabeza arde
vermella cofia de seda,
lourido o solpor enreda
coas xoias do seu xubón
que a negra desilusión
deixa, nun xiado sono,
máis follas secas que outono
dentro do seu corazón.
Vina ir polos vieiros
da nuite, na face súa
rebrila o livor da lúa
e o bagullar dos luceiros,
enloitada de nubeiros,
desfrorando unha oración,
pola tebrosa rexión
marcha, con dorido porte,
levando o frío da morte
dentro do seu corazón.
"Decrúa", Gonzalo López Abente
(Gonzalo López Abente nasceu no dia 24 de Março de 1878. Morreu em 1963.)
terça-feira, 23 de março de 2021
Weather report
- Isto é que tem estado!...
- Realmente...
- E então hoje!...
- Lá isso...
- O que é que eles dão para amanhã?
- Eu...
- Pois. Então até logo, vizinho.
- Vá pela sombra, vizinha.
É, o elevador aproxima muito as pessoas. O elevador e o boletim meteorológico.
P.S. - Hoje, 23 de Março, é Dia Mundial da Meteorologia. Por outro lado: o primeiro elevador de Elisha Graves Otis foi instalado em Nova Iorque no dia 23 de Março de 1857.
O tempo é o melhor remédio
durante a tarde. Pequena subida da temperatura máxima. Acentuado arrefecimento noturno. Ondas de noroeste com 1 a 1,5 metros, passando gradualmente a ondas inferiores a 1 metro." - de acordo com a previsão do Instituto Português do Mar e da Atmosfera para hoje. E pronto: é dinheiro que poupo na farmácia.
segunda-feira, 22 de março de 2021
Presunção e água-benta
Entrou na pequena capela e persignou-se com toda a presunção. É que não havia água-benta...
A gota de água
- Agora é que foi a gota de água - disse o brincalhão, pousando desajeitadamente o copo vazio do seu décimo terceiro uísque. Posto isto, vomitou com assinalável pertinácia em cima do excelentíssimo público.
Um Tales de Mileto
A água é o princípio de todas as coisas; o vinho é o fim - dizia o filósofo antigo. Um tal... um tal... um Tales de Mileto.
domingo, 21 de março de 2021
Uma boa trancada
O Pionono hoje é casas e está bem. Uma rua a descer para quem vem e, a mesma, a subir para quem vai. À merda. Monte é que... viste-lo?
E faz falta. Adaptando o meu Nobel Lobo Antunes, nem é homem nem é nada quem nunca deu uma boa trancada no monte. Eu já.
Traz uma árvore também
Era uma localidade um bocadinho estranha, porém exuberantemente moderna e cosmopolita. Nas suas principais entradas, a autarquia colocara frondosas tabuletas que avisavam os forasteiros: "Se quiser sombra, traga a sua própria árvore".
Branca de Neve, o Capuchinho e os Porquinhos
Descobri a árvore do meu avô
Foto Hernâni Von Doellinger |
Para o avô da Bomba, como para todo o fafense que então se prezasse, a palavra praia queria dizer Póvoa de Varzim. Exactamente. Ir à praia e ou ir para a praia (conceitos que importa diferençar), era ir à Póvoa ou ir para a Póvoa, via Famalicão. E no entanto o meu avô conhecia também satisfatoriamente os longínquos areais de Ofir, da Figueira da Foz e da Nazaré, o que já não era brincadeira! E de onde é que lhe vinha esta extraordinária mundivivência, este cosmopolitismo fafense tão antes do tempo? Pois bem: o meu avô organizava excursões - dois dias ao Alto Minho, com pernoita em Viana do Castelo, dentro do autocarro, no Largo da Agonia a esbordar de camionetas e parolos como nós, e umas senhoras cá fora a fazerem café de cafeteira em máquinas a petróleo, à luz do petromax até que o sol nascesse; três dias a Fátima. Ano sim, ano não. Partida e chegada no quartel dos Bombeiros, sempre, então na Rua José Cardoso Vieira de Castro, ao lado da garagem do Zé Bastos e entre os dois palacetes. Com as estradas que tinha, Portugal era naquele tempo um país imenso. Ir de Fafe aos Arcos de Valdevez, por aquela altura, era como embarcar por engano numa expedição ao fim do mundo...
O meu avô era um videirinho, já aqui contei. Tinha casa e salário de quarteleiro dos Bombeiros, não sei se era muito ou pouco, mas não perdia oportunidade de fazer dinheiro extra no que lhe estivesse mais à mão: o tasquinho na cave do quartel, os tremoços, os bolinhos de bacalhau e o vinho na Festa da Bomba, a aguardente e o vinho, sempre o vinho, nas sessões nocturnas do cinema ao ar livre na parada das traseiras, muito antes de a sétima arte descer ao campo de futebol, a banca de sapateiro por baixo das escadas que subiam para o salão de festas, umas refeições especiais encomendadas por um certo grupo de amigos, respeitosos admiradores das mãos de ouro da minha avó para a cozinha. Uma vez há cinquenta anos o papa Paulo VI veio a Fátima e pouca gente tinha televisão em casa. No salão dos Bombeiros foram montados um projector e uma tela para a transmissão em directo e em "ecrã gigante", com entradas a pagar. A sala encheu, o dinheiro da receita revertia naturalmente para a Associação Humanitária, mas de certeza que o avô também conseguiu sacar dali algum, nem que fosse a vender rebuçados para a tosse ou cascas de amendoins...
Ora é aqui que encaixam as excursões, que os candidatos a excursionistas pagavam em suaves prestações semanais desarriscadas nuns cartõezinhos que o meu avô mandava fazer na tipografia. Isto para aí durante um ano. O avô da Bomba fazia a cobrança aos sábados ou domingos de manhã, não sei precisar. Ia de motorizada e às vezes levava-me, primeiro numa Florett e depois na Lambreta, uma Vespa azul, antes e depois de haver sentidos proibidos nas ruas de Fafe. Para o meu avô nunca houve, o caminho foi sempre o mesmo e tinha sempre razão quando lhe apitavam ou gritavam para não ir por ali. Eu, nem pio...
(A Florett tem muito que se lhe diga em Fafe, era um veículo de pecado, mas por ser verdade aqui declaro que o meu avô nunca foi dado a essas actividades por assim dizer extracurriculares. A Florett calhou-lhe, e só isso...)
Mas as excursões. Eram viagens épicas, cheias de cheirinho bom a merendeiro e muitas paragens para "mudar a água às azeitonas", enjoos e borracheiras de caixão à cova. Cheiravam também a gomitado, a naftalina, a sapatos novos, a botas ensebadas de fresco, a chulé, a urina, a tabaco, a suor, a desodorizante Lander, a perfume barato, a brilhantina, a laca, a mundo. A coberto da noite soltavam-se uns traques enfeitados com risinhos solertes que ajudavam à festa. A camioneta avariava, pessoas perdiam-se. Cantava-se o "Treze de Maio", o "Queremos Deus" e "O carrapito da Dona Aurora". Rezava-se o terço ao passar a Ponte de Fão, sobre o rio Cávado, porque constava que a estrutura estava a cair de podre. Morreríamos todos muito bem. Na Póvoa as mulheres arregaçavam as saias, os homens arregaçavam as calças e os miúdos ficavam em cuecas ou em pelote, consoante a idade, e todos se agarravam com quanta força tinham à grossa corda que ligava o mar ao areal, brincando aos sustinhos e trambolhões de felicidade histérica ali no sítio onde o mar enrola na areia, que também se cantava.
Sei disto tudo porque estive lá. Que me lembre, fui uma vez a Fátima e outra ao Alto Minho, esta ainda com o meu pai. O meu irmão Lando ainda não tinha nascido. Eu, o Nelo e a Nanda queríamos ir sempre, mas não podia ser. O meu avô não dava borlas, nem aos netos. (Na verdade, o meu avô não dava nada a ninguém. Isto é: dava os bons-dias mas pedia recibo.) Ia portante só um, e no colo da mãe, mais do que isso seria prejuízo...
O meu pai, que gostava de fazer rir a minha mãe, dizia aos dois que ficavam: "Não é preciso chorar, vós também ides. Na sombra..."
Tanto relambório para chegar aqui: herdei do meu avô o horror à praia em dias de sol e gente, mas tenho a árvore que ele reclamava. Encontrei-a em Matosinhos, mesmo ao pé da porta, encostada à esplanada do Lais de Guia. Passo por lá todos os dias e vejo o avô à sombrinha, com os pés mansamente enfiados na areia morna. Gosto de o ver assim, peço-lhe a bênção e beijo-lhe a mão. Sossego as saudades. O avô da Bomba era molageiro e videirinho, forreta do piorio, mas é meu.
Dinis Machado 9
II Soneto para Cesário
Se te encontrasse, agora, na paisagem
Nocturna dos fantasmas da cidade
Contava-te dos nossos pobres versos
No teu rasto de sombra e claridade.
Contava-te do frio que há em medir
A distância entre as mãos e as estrelas
Com lágrimas de pedra nos sapatos
E um cansaço impossível de escondê-las.
Contava-te - sei lá - desta rotina
De embalarmos a morte nas paredes
De tecermos o destino nas valetas.
De uma história de luas e de esquinas
Com retratos e flores da madrugada
A boiarem na água das sarjetas.
Dinis Machado, no blogue Aspirina B, de José do Carmo Francisco
(Dinis Machado nasceu no dia 21 de Março de 1930. Morreu em 2008.)
sábado, 20 de março de 2021
Dia da Felicidade e assim sucessivamente
Hoje é Dia da Felicidade. E também da Clementina, da Adelaide, da Iracema, da Adosinda, da Felisberta, da Miquelina, da Leocádia, da Emerenciana, da Umbelina, da Hortênsia da Perpétua e assim sucessivamente. Aquele gajo tem uma agenda realmente de fazer inveja...
P.S. - Hoje, 20 de Março, é Dia Internacional da Felicidade, manda a ONU. No Brasil é também Dia da Agricultura.
A felicidade agarra-se pelos tomates
Jasmina era uma mulher feliz. Fazia o que queria do marido. Em casa
mandava ela, e mandava nele também. O homem gostava assim. As vizinhas e
amigas de Jasmina - à qual, pelas costas, chamavam Felismina -
perguntavam-se, roídas de inveja: "Como é que ela consegue, como é que
ela consegue?!..."
E um dia Jasmina explicou: "Trago-o bem preso pelos tomates, um bocadinho mais acima..."
O caminho para a Felicidade
É fácil, facilíssimo. Sempre em frente até ao largo da igreja, vira à direita pela rua com árvores, passa pelo campo da bola e pela sede, torna à esquerda e logo na esquina, encostada ao café e depois do funileiro, há uma casa pequenina com porta vermelha e vasinhos floridos na janela: é aí que ela mora. Ela e os dois filhos. Cuidado com o cão!
Felicidade é coisa pouca e tudo
Vou a Oliveira de Azeméis, por exemplo, e levo uma data de "Ó jovem!", geralmente debitada por pessoas de bandeja na mão e com idade para serem, vá lá, meus netos. Afino! Ai, se soubessem como eu afino!... Por outro lado: vou a Fafe, por exemplo, e as pessoas, algumas com idade para serem, vá lá, meus filhos, chamam-me "Meu rico menino!", e eu gosto. Fico feliz da vida!... Quer-se dizer: todas as terras são por exemplo, mas algumas são mais por exemplo do que outras. E neste particular, deixem-me que vos diga, Fafe é, modéstia à parte, uma terra por exemplíssimo...
Alcançando a Glória
Reinaldo Ferreira 5
Amo as palavras que estão
Entre o arcaico e o difuso
No cerne da indecisão.
Prefiro adrede e gomil.
Digo delíquo e fanal.
E só descrevo um funil
Em termos-vaso-de-graal.
Mas nesta minha importância,
Neste sol que me irradia,
Nem Deus preenche a distância
Que vai de mim à Poesia.
(Reinaldo Ferreira nasceu no dia 20 de Março de 1922. Morreu em 1959.)
Menotti del Picchia 7
Tarde fazendeira
Tarde cabocla
com banzo de pretos nas sombras,
carícias de escravas mulatas
nas palmas dos longos coqueiros.
Um rouco ribombo de bombo
nos ecos; um trilo de estrídulos grilos
nas moitas; tarde cabocla
com um sol de miçangas, de gangas vermelhas
nos flancos das serras,
com um hálito fresco de folhas pisadas, de verdes pomares
pejados de frutas-de-conde, de mangas maduras,
com aros de lua nascente nos céus e nas águas,
tarde cabocla
com vagas preguiças de redes nas ramas,
com longos bocejos de luz nas encostas,
foi numa tarde como esta
que vieram ao mundo
os mestiços da raça...
Menotti del Picchia
(Menotti del Picchia nasceu no dia 20 de Março de 1892. Morreu em 1988.)
sexta-feira, 19 de março de 2021
Não há pai
"Não há pai para ti, meu rico filho!", dizia-lhe a mãe, cheia de orgulho e vaidade. O rapaz por acaso não apreciava...
Como o mundo é pequeno (e um bocado parvo)
- Sou, com efeito, um bocado parvo, mas como é que o caro senhor adivinhou?
- Um pressentimento. É que eu também sou...
- O caro senhor também é um pressentimento?
- Não, não, caro senhor: também sou um bocado parvo.
- Como o mundo é pequeno! Somos então praticamente primos...
- Parentes, pelo menos...
- E, mal que lhe pergunte, o caro amigo é um bocado parvo por parte da senhora sua mãe ou por parte do senhor seu pai?
- Por parte do senhor meu pai.
- Mas isso é extraordinário, caro amigo, porque eu também sou...
- O caro amigo também é um bocado parvo por parte do senhor meu pai?
- Não, não, caro amigo: sou um bocado parvo mas por parte do senhor meu pai.
- Oh, que pena! Quase que éramos irmãos, não é?...
Fuja, mãe, que o pai vem bêbado
- Ó pai, a mãe manda dizer prò pai vir pra casa!...
- Vai tu...
- Ó pai, a mãe mandar dizer que o comer está pronto!...
- Então vai, antes que arrefeça...
- Ó pai, a mãe manda dizer que, se o pai não vier já, mete-lhe a comida no balde do lixo!...
- E faz muito bem...
- Ó pai, a mãe...
O dia de amanhã
"Nunca se sabe o dia de amanhã", dizia ele constantemente ao filho. E repetia e repetia e repetia. "Nunca se sabe o dia de amanhã". Cansado de ouvir o pai, o filho ofereceu-lhe um calendário.
Um pinóquio, dois pinóquios, três pinóquios
quinta-feira, 18 de março de 2021
Roldão na AD Fafe
O antigo guarda-redes Mário Roldão morreu hoje, aos 84 anos. As notícias dizem que Roldão representou Leixões e Vitória de Guimarães e que passou também pelo FC Porto e pelo Vila Real. Esqueceram-se do Fafe, onde Roldão chegou creio que em 1970, vindo de Guimarães com o colega Daniel Barreto, que iniciou a época como jogador-treinador. Os registos poderão ser omissos, mas eu sou testemunha.
Ronaldo Cunha Lima 6
Indução
A dúvida, afinal, esclarecida:
ela jamais se foi da minha vida.
Minha vida, sem ela, é que se foi.
"Breves e Leves Poemas", Ronaldo Cunha Lima
(Ronaldo Cunha Lima nasceu no dia 18 de Março de 1936. Morreu em 2012.)quarta-feira, 17 de março de 2021
A máscara e o cigarro
Microcontos & outras miudezas 236
terça-feira, 16 de março de 2021
Levantamento das Caldas
O Levantamento das Caldas, tentativa de golpe militar contra o Estado Novo caetanista, ocorreu no dia 16 de Março de 1974 e, apesar de falhado, serviu de rastilho para a Revolução de 25 de Abril. É também chamado Intentona das Caldas, Revolta das Caldas ou Golpe das Caldas - tudo nomes bem menos sugestivos e mais ajuizados. É. Deixem-se de malandrices! Levantamento e Caldas, na mesma expressão, trazem logo à conversa fradinhos malacuecos...
As virgens e a bisnaga
segunda-feira, 15 de março de 2021
Dos tomates e do decoro. E vice-versa.
Foto Hernâni Von Doellinger |
Que se segue: resolvi contactar o Sr. Guloso ele próprio, perguntando-lhe, preocupado e mais respeitosamente era impossível, se por acaso não estaria o Excelentíssimo passando por alguma crise de escrotal decoro (há que chamar as coisas, neste caso os coisos, pelo nome), e aproveitei para me queixar do cada vez maior verdor e da cada vez maior acidez do produto em questão. O tomate pelado, não esqueçamos.
O meu e-mail teve resposta em quinze dias. Uma resposta profissional, simpática e, pareceu-me descortiná-la, com uma pitada de ironia no estrugido, que foi o que melhor me soube. Fui informado de que os tomates de que eu reclamava tinham sido produzidos "na campanha de 2017, que, por condições extremas do tempo (chuvas em final de Abril e Maio), se traduziu em tomate mais ácido, com menos cor e que se separa da pele com mais dificuldade."
Como forma de "atenuar a imagem menos positiva" que em mim lamentavelmente provocara, o Sr. Guloso revelou a intenção de enviar-me "um cabaz de produtos da marca, incluindo pelado da campanha de 2018, na expetativa de" me "fazer chegar um tomate pelado mais condizente com o nome". Obviamente agradeci e recusei a oferta, hábito antigo do velho ofício.
Agora. Estamos no ano de 2021. O tomate pelado Guloso continua a chegar-me a casa com pele, verde e ácido, rigorosamente como o da famigerada e defeituosa colheita de 2017. Conclusão, das duas uma: em Portugal os anos são todos de "condições extremas do tempo (chuvas em final de Abril e Maio)", pelo menos para os tomates, ou então há quatro anos que todos os anos são 2017. O que é lamentável e vice-versa.
P.S. - Hoje, 15 de Março, é Dia Mundial dos Direitos do Consumidor.
Faltava-lhe a cedilha
O primeiro a bater com a mão no peito até foi o fabricante. Para além de um simpático pedido de desculpas, oferecia-se para me enviar uma nova alheira: imaginei que me mandaria pelo menos meia dúzia, todas elas de qualidade cinco estrelas, mas não aceitei. Eu só queria mesmo reclamar, porque reclamar é bom, desopila.
A quem puder interessar, para futuras demandas, ou, quem sabe, até para fazer jurisprudência, aqui deixo, humildemente, o teor da minha bem sucedida reclamação:
Exm.ºs Senhores,
Comprei ontem na loja do [...], em [...], uma alegada "Alheira de Caça" produzida por V. Ex.ªs e pomposamente apresentada como "produto seleccionado da Terra Fria Transmontana".
A etiqueta prometia uma alheira com, nomeadamente, 40% de carne de caça (pato, perdiz e coelho), 30% de carne de porco e 20% de pão trigo.
Cozinhada e aberta, verifiquei logo, sem precisar de ir ao microscópio, que fora enganado. Carne... de grilo! Assim a olho - e comprovado na boca! - , a alheira era afinal composta por 90% de pão e 10% de gorduras diversas.
Dito de outra forma: a alheira de caça de V. Ex.ªs não trazia cedilha.
Melhores cumprimentos,
Despesas de manutenção efectivamente
O meu banco mente-me
O meu banco escreve-me um email e diz-me: "Junto enviamos o seu extrato em formato digital. Pode agora consultar de forma rápida, cómoda e ecológica os movimentos do mês passado." O meu banco mente-me com quantos dentes lá guarda. O formato digital não é a forma mais rápida de eu consultar o meu extracto - o papel é que era; o formato digital não é a forma mais cómoda de eu consultar o meu extracto - o papel é que era; e não acredito que o meu banco tenha um cêntimo sequer de preocupação ecológica.
Chulices
A Fnac e a Leya andam a vender livros assim
Foto Hernâni Von Doellinger |
Portanto, se vai à Fnac comprar um livro (e recomendo-lhe que não vá), não se esqueça de inspeccionar todas as páginas, uma a uma, antes de o levar para casa. E tem um mês para o ler ou está fodido.
Já agora, a alma caridosa que me oferece os meus melhores livros deu-me também, pelo Natal, "As Aventuras de Augie March", de Saul Bellow, edição da Quetzal, comprado igualmente na Fnac do NorteShopping. Acabei-o ontem. O livro é extraordinário, melhor do que um filme, mas a revisão do texto é uma desgraça. Faltam artigos definidos às carradas, multiplicam-se os erros de concordância, refazem-se frases sem se apagar as palavras alegadamente substituídas, aparecem do nada, aqui e ali, páginas com um português construído à la brasileira. Como disse, uma desgraça. E, como se prova, uma desgraça nunca vem só.
P.S. - Publicado originalmente no dia 19 de Janeiro de 2015. Nesse mesmo dia recebi um e-mail de Cecília Andrade, editora da Dom Quixote (grupo Leya), que dizia:
Uma vez que o livro tem um erro de impressão, a responsabilidade é da gráfica que tem que assegurar um controlo de qualidade. Este livro terá escapado a esse controlo. Mas a responsabilidade é também nossa e por isso agradeço que me envie o seu endereço postal para lhe mandar um exemplar em condições. Não se deixa a meio um livro de que se gosta - e muito menos um livro de Philip Roth, digo eu.
Fico a aguardar.
Obrigada.
Com os melhores cumprimentos,
Cecília Andrade