terça-feira, 29 de setembro de 2020

Elvira Vigna 3

Desses momentos - há um motorista de táxi esperando para saber aonde ir - de definição impostergável sobre quem é o macho, quem é a fêmea. Era Paulo quem tinha de dizer para qual motel iriam. Uma pergunta do tipo Você conhece aí um motel legal, benhê?, e nem seria o caso de continuar o caminho.
Esse era um motel velho conhecido de Paulo, o único conhecido. 
Foram. 
Treparam. 
N. com mais desenvoltura que Paulo. Luz acesa, cortina semiaberta, uma nudez sem problemas, peitos, bunda, boceta, ali, às claras. Prometia. Mas Paulo iniciava com beijinhos, carinhos, palavras de afeto. Odiando‑se por isso, sem saber como sair disso. N. também maneirava nesse primeiro dia, sem querer parecer puta, sempre um risco em situações como a sua. 
Fizeram um papai e mamãe e depois ficaram por ali, nus, fumando o mesmo cigarro, retomando as conversas que tinham havia tanto tempo, nos almoços e cafés marcados, sempre a sós, quando falavam sobre programas de tradução, tradutores amigos, novos clientes etc. 
Ficaram trepando, sempre numa tentativa de sair de um limite que, justamente por existir, era o que criara o encontro. 
E depois foram embora, pedindo dois táxis. N. foi para a casa dela, Paulo para o hotel. 
 
"Nada a Dizer", Elvira Vigna

(Elvira Vigna nasceu no dia 29 de Setembro de 1947. Morreu em 2017.)
 

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