quinta-feira, 21 de maio de 2020

Microcontos & outras miudezas 206

O Filhodeputa anda de máscara
Já aqui falei dele. Do indivíduo que andava pelas ruas das minhas redondezas à cata de piriscas e que, filho da puta, batia na companheira que lhe fazia o serviço. A franzina senhora desapareceu de cena. De tão sumária e submissa que me parecia, temo, sinceramente temo, que lhe tenha acontecido o pior, só para não atrapalhar. Mas o bronco continua por aí, agora solitário e sempre bandalho, enfim obrigado a vergar a mola se quer matar o vício. Com o encerramento coronavírico de cafés e restaurantes, no chão da porta dos quais costumava abastecer-se, a vida corria-lhe mal, e é o que lhe estimo.
Continua, portanto, às piriscas, no outro dia sem mais nem menos malcriou com a minha mulher, que não lhe liga mas tem medo dele, mais cedo ou mais tarde vou ter de lhe foder o focinho, ao porco. O indivíduo continua às piriscas, que fuma acto contínuo, mas, actualizado com os tempos da pandemia, anda de máscara. A máscara padece de evidentes sinais de que foi sacada ao lixo. Mas de máscara, o burgesso. É outra limpeza, outra segurança.

Dor de corno
Foi ao médico e queixou-se de dor de cotovelo. O médico perguntou-lhe sintomas. Ele disse que a mulher tinha um amante. O médico explicou-lhe que não era dor de cotovelo, mas dor de corno. Ele ficou mais descansado.

Bastante desagradável
- Está bastante desagradável.
- Você também.
- Eu referia-me ao tempo.
- Eu não. 
 
Agora tenho duas padarias
Notícias do des-con-fi-na-men-to. Como já aqui contei, a nossa padaria fechou nos princípios de Março por causa do coronavírus. A nossa padaria era o sítio onde todos os dias comprávamos o pão que nos alimentava há mais de trinta anos, e era como se fôssemos da casa. Mas o pão é essencial e, que remédio, começámos a frequentar outra padaria, igualmente aqui à porta, que fez o favor de nos farturar a mesa naqueles dias mais complicados. Que se segue. A nossa velha padaria reabriu e estão todos de saúde, graças a Deus, fui lá saber com os próprios olhos e comprar com as próprias mãos. E máscara.
Mas e a nossa nova padaria? Que nos serviu tão satisfatoriamente em tempos de crise, bem sei que durante menos de dois meses, íamos agora voltar-lhe costas, muitíssimo obrigadíssimo, estava tudo muito bem mas já não precisamos, e façam favor de desculpar?
Não somos capazes de semelhante. Passámos a ter duas padarias. A minha mulher e eu dividimo-nos nas visitas. Porque a memória é fundamental mas a gratidão também.

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