quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Farta de que lhe caguem à porta

Foto Hernâni Von Doellinger

Este aviso-apelo, mais lancinante do que parece à primeira vista, está afixado, curiosamente, na entrada ao lado do portão da minha sogra, onde também não faltava merda, como aqui contei num textinho de 29 de Maio de 2015. Portanto a coisa continua. Não sei se a cagona - e refiro-me evidentemente à dona do cão - é a mesma de então, mas o modus operandi confere...
E o textinho contava assim:

A minha sogra, eu, o canídeo e a porca
Todos os santos dias, não sei se por promessa, há um canídeo que, com vossa licença, caga ao portão da minha sogra. Todos os santos dias. Fica ali aquele montinho de merda, com vossa licença, às vezes dois ou três montinhos de merda, com vossa licença, ou quatro ou cinco, passeio adiante e organizados em filinha de pirilau, porque o referido canídeo deve ser animal para comer à tripa-forra e evacua, com vossa licença, como verdadeiro cagante andante.
A minha sogra pensava que era eu, para lhe fazer desfeita não sei de quê. E não foi fácil convencê-la de que, com vossa licença, aqueles saralhotos eram evidentemente, com vossa licença, saralhotos de canídeo. E eu sou balança.
Uma vez quase apanhei o infractor com as calças na mão: a merda, com vossa licença, ainda a fumegar, mas o canídeo já a descer o fim da rua com a dona pela trela, e dissesse eu o que dissesse estaria a falar para a central. Calei-me, portanto.
Portanto, calei-me, mas pus-me à tabela, agarrei-me ao Excel, recolhi e cruzei informações, fiz um horário e hoje apanhei-os em flagrante. À horinha, nem mais cedo nem mais tarde, abri de rompante o portão e lá estava a acontecer à minha frente: merda ao vivo, como eu previa e com vossa licença.
Fiz a cara de nojo que trago ensaiada há mais de um ano, e disse:
- Então és tu, minha porca?!...
- Não é uma cadela, é um cão... - empertigou-se-me a dona, histericamente professoral.
- Mas eu não estava a falar para o canídeo, minha senhora...

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